segunda-feira, julho 19, 2004

O Peso Do Dinheiro

Passando os meus dias atrás de um balcão cheguei rapida e facilmente à conclusão que a avareza e a fome pelo dinheiro são directamente proporcionais ao tamanho da conta bancária e provavelmente inversamente proporcionais ao tamanho do orgão sexual. Quanto maior a conta, maior a avareza, menor o dote. É no mínimo curioso constatar que só as pessoas com um DR, ENG ou um último nome indicativo de boas famílias no seu cartão de crédito é que clamam por DESCONTOS.  Ainda não assisti a nenhum caso de alguém que aparente ou seja de classes sociais menos favorecidas a exigir um desconto.
Temos vários casos e várias aproximações, mas todas com o mesmo fim: o desconto.  Assim, uma situação que ocorre com frequência é a tia com o Gold Card do marido pegar num livro que custe 10€ e chegar ao balcão, e em vez de responder ao meu bom dia ou boa tarde, a primeira frase que lhe sai dos seus lábios queimados de passar o dia ao sol é: "TENHO DESCONTO." Ora bem. "TENHO DESCONTO.", enquanto bate com os cotovelos na mesa e começa a olhar à sua volta.  Que delicadeza, que subtileza, olhe que se fosse um nadita mais discreta eu não a entederia. Das primeiras vezes, eu não sabia bem como o que fazer. Até que decidi questionar o porquê do desconto. Foi o drama, o horror, a tragédia. A tia não sabia como reagir, primeiro fez um ar de extrema e profunda indignação. "OLHE, TENHO DESCONTO PORQUE TENHO DESCONTO" .  Mas tem desconto porquê? É advogada? Médica? Professora? Tem algum cartão que a habilite a um desconto? Cartão jovem não, só se for mesmo cartão da terceira idade. A sua indignação inicial deu lugar a um certo mal estar, acompanhada de um notória falta de jeito. A senhora não sabia o que fazer. E aí, a senhora responde: "OLHE, EU NÃO TENHO CARTÕES, NÃO ANDO COM CARTÕES PORQUE NÃO POSSO CARREGAR PESOS". Brilhante. Fantástico. Mas, tenho que ser sincero, como a compreendo, senhora. Sempre que recebo um cartão de crédito a tendência é mergulhar no chão, tal a força gravitacional que é exercida sobre ele. Einstein teria ficado maravilhado como um cartão de um tamanho tão pequeno e com uma massa mínima exerce tamanha força gravitacional. Um verdadeiro X-FILE (FICHEIROS PARA-ANORMAIS). Obviamente que não levou o desconto. Claro que depois, o arrependimento escureceu me alma e tornou o meu coração num pequeno bloco de carvão. Sem o 1€ de desconto que eu não dei à senhora, ela vai certamente passar fome, tal como os seus 20 filhos e 40 netos, na sua pequena barraca da Quinta da Marinha.
Depois temos o caso do cliente que pede o desconto entre dentes: "É este livro, e o descontinho do costume."  Há clientes que têm desconto, devido não só há sua habitual presença, mas também à sua não diria simpatia, mas ao seu respeito com que tratam os que trabalham para o servir.  Mas quando surgem pessoas que eu nunca vi de lado nenhum, que nem uma simples e cordial saudação dão,  que as únicas palavras que se ouvem são "TENHO DESCONTO 10%", sinceramente, não há nada a fazer. Não há se faz favor. Não há obrigado. Não há nada. Eu nunca vi ninguém chegar à Fnac, Continente, Ensitel, etc etc, e exigir um desconto. É que eles não pedem. Não sugerem. Exigem! Não os ensinaram a ter respeito? Se eu fosse gerente era logo ali, um cartaz, NÃO HÁ DESCONTOS. E cada vez que alguém pedisse um desconto, era um acréscimo de 10% no livro. Mais nada. Onde é que anda o Salazar quando se precisa dele? E mais, vou mais longe. Era a ex-ministra Manuela Ferreira Leite, esse ícone e ídolo do povo português, para a caixa. Aí queria ver quem tinha o desplante de exigir um desconto. Pagavam, e inda pagavam mais uns impostos, e mais IVA, e mais uns trocos para a Segurança Social.
Por vezes inventam desculpas como "AH, EU TENHO DESCONTO LÁ NA OUTRA LOJA, FAÇA LÀ O JEITINHO". Ou então, "FALEI COM O SEU GERENTE, TENHO DESCONTO" (o gerente nem sequer estava na loja). Neste casos há que louvar a tentativa pela creativade, pelo menos entretem-nos. Acho que a maior parte das pessoas não se apercebe da figura rídicula que faz. Alguns até fazem um choradinho para o desconto.  Depois pagam com uma nota de 100€.
E há que não esquecer, que agora em campanha de verão, temos 10% de promoção em alguns livros. Obviamente que não acumulamos descontos. Mas, um senhor, certo e seguro que merece e precisa do desconto, insiste. "TEM 1o%? AH BOM, ENTÃO META AÍ MAIS 10%!" Peço imensa desculpa, mas não é permitido, retorqui eu. O cliente insiste. E insiste. Até que desiste. Não leva o livro, vira costas e vai ver a loja. Contínuo a atender pessoas, até que o senhor volta mas desta vez com outro livro na mão, com ar confiante e triunfante. "ESTE TEM DESCONTO?" pergunta ele, visivelmente satisfeito consigo. Não, respondo eu. "AH, ENTÃO LEVO ESTE! E NÃO SE ESQUEÇA DOS 10% DE DESCONTO!". E lá vai ele, loja fora, feliz da vida.
Agora que penso nisso, só faltava vir alguém com o cartão FNAC e pedir o Santo Graal do consumidor, o DESCONTO...




4 comentários:

Anónimo disse...

"Grão a grão enche galinha o papo", não sou eu que o digo, apenas deixei o povo se pronunciar, é o povo que o diz, é o povo que o sente,e quem somos nós para contestar a sabedoria que tempo esculpiu, pois ao tempo vaticina-se ele mesmo, mal é quando ele próprio escasseia.

Tertuliano Máximo Afonso

Anónimo disse...

Perguntem ao Paulo Ferreira se n é pesado...

Anónimo disse...

Pois... Não pesava ao miguel pk o miudo joga com os bolsos rotos!!! Viva CHELAS

Anónimo disse...

Chego hoje a Londres e o Mister josé mourinho avisou-me que havia um Blog a denegrir-me.
Por tudo o que fiz no Porto respeitem-me...

Paulo Ferreira