domingo, fevereiro 20, 2005

Pérolas da Literatura Parte III - LSD Cósmico

A terceira obra é o enigmátco "Gatilho Cósmico, o Derradeiro Segredo dos Illuminati". Apesar de ainda não ter sido vendido, já está prometido. Já existe uma reserva para um cliente, que parecia bastante interessado no livro. O autor livro é conhecido por RAW, e segundo a sinopse "faz perguntas incômodas na busca pela verdade". Segundo o autor , a nossa consciência está condicionada, sendo o primeiro passo para a libertar "aprender a lembrar o burrico invisível". O LSD bate forte. Livro verdadeiramente assombroso, um prodígio.abrange um panóplia impressionante de assuntos, sempre com a mesma clarividência. Assuntos estes que vão desde a Operation Mindfuck (ou, como eles chama Operação Estupro Mental) até ao milagre de Fátima. Sim, meus amigos, o milagre de Fátima também está contemplado, e passo a citar: "Os católicos agora chamam a Virgem Maria de Nossa Senhora do Espaço" dizendo também que devemos responder à "pergunta cabeluda" relativamente ao que aconteceu em Fátima, onde "100.000 pessoas participaram telpaticamente da mesma alucinação": "Até que ponto essa realidade de consenso é similarmente criada?". LSD 2, RAW 0, siga o jogo.
Mais tarde o autor conta como era editor da revista Playboy, e foi assim que descobriu que o número 23 era tremendamente importante, dando depois uns exemplos de acontecimentos no dia 23 e que tiveram consequências como 23 anos de cadeia ou 23 dentes partidos, acrescentando depois: "A partir do momento em que o burrico que nos carrega observa estranhezas desse tipo, o sinal chave torna-se proeminente em todas as ocasiões".
Avançando umas páginas, chegamos a um capítulo com um título bastante comum em diversos livros: "Seres de Luz, Cães Falantes, Mais Extraterrestres e outras Criaturas Estranhas". Quem já não leu um capítulo com esse título? RAW explica que fala com uma entidade que "não era totalmente coerente" (a lucidez tenta vir ao de cima.) mas depois diz que a culpa era da própria mente que não conseguia captar tudo o que a entidade dizia, algo que, segundo ele é "típico dos fenómenos ocorridos com ovnis". Conta depois três marcantes histórias, que só por milagre ainda não figuraram do Jornal Nacional da TVI.
A primeira consiste no "seguinte diálogo esclarecedor entre um Ufonauta e um ser humano:
Ufonauta - Que horas são?
Ser Humano - Duas e trinta.
Ufonauta - É mentira. São quatro horas."
RAW explica então que "esse incidente ocorreu na França em 1954 e o Ovni acelerou e sumiu logo após o diálogo. O horário era realmente 2h3.". Ai está a prova que faltava para concluirmos que os relojoeiros são fraudulentos mesmo no espaço sideral.
O segundo caso remonta à cidade americana de Pittsburgh, no ano de 1908, onde "um cachorro se aproximou de dois detetives da polícia (.) e disse educadamente: "Bom Dia". Depois desapareceu num sopro de fumaça verde." Há que ressalvar a boa educação do cão, que os cumprimentou cordialmente antes de se esfumar. Cão, se me estás a ler, os polícias sentem a tua falta. O autor explica este acontecimento com alterações no burrico. Mais uma vez a culpa é do burrico, já parecem os adeptos do Porto a queixar-se do Quaresma: "Ah e tal, se ele não estivesse tão preocupado onde estacionou o burrico jogava melhor."
O terceiro caso deu-se no Brasil em 1971, quando "dois jovens encontravam-se um carro quando tiveram a impressão de que um ônibus aproximava-se perigosamente atrás deles. Então, seus metaprogamadores divergiram. Um deles teve a impressão que um disco voador tinha aterrissado. Pensou ter sido levado a bordo e ter feito aquela costumeira viagem a um planeta alienígena." Antes de continuar, atente-se na costumeira viagem, um hábito comum a qualquer pessoa. Continuando: "Em seguida, encostou-se em pé atrás de um carro que alguém estacionara ao lado da estrada. O outro ficou com a impressão de um lapso de memória (ou de um salto no tempo?) e, acordando, simplesmente se encontrou em pé atrás de um carro, sem lembrar de quem parara o carro e de quando saíra dele." Um dia normal na vida de dois jovens brasileiros, portanto. Então, o autor avança três explicações para o sucedido:
"Um - Um disco voador abduziu os dois jovens; após procederem a experiências com eles, usaram uma máquina defeituosa de apagar memórias". Consta que, fruto das experiências alienígenas, um dos jovens começou a ter dificuldade a sentar-se e demonstrou uma violenta vontade de se tornar militante do PS, tendo inclusivamente comprado um livro do Cláudio Ramos enquanto ouvia o hit-single Mr. Gay no carro.
"Dois - havia algum tipo de anormalidade no campo magnético da Terra naquele mesmo ponto em que foi administrado o choque traumático. Uma das vítimas sofreu uma alucinação de estar voando em um disco voador e o outro sofreu um "apagão"." Também eu fui afectado à tempos por isto. Estava a casa, e pareceu-me ter visto o Benfica a perder 2-0 com o Beira-Mar em casa. Ao comentar o facto com a minha esposa, ela exclamou: "Ah, isso deve ter sido uma alucinação provocada pelo campo magnético."
"Três - Eles (os sinistros experimentadores) encontravam-se naquele enigmático ônibus que chegara perigosamente perto, pouco antes do estupro mental. Eles conectaram os jovens a algum tipo de máquina de estupro mental e. Mais panquecas do espaço.?"
Coerência. Clareza. Sinceridade. Verdade. Sentido. Tudo isto se pode encontrar no texto de RAW. LSD 3, RAW 0, é a goleada total.
RAW fala depois na censura que sofreu quando queria publicar um livro chamado Illuminatus, que sofreu um corte de 500 páginas. Diz que a censura partiu da Sociedade Discordiana, uma entidade que honrava o imperador Norton e possuía um livro sagrado intitulado "Como Encontrei a Deusa e o Que Fiz Para Ela Depois de Encontrá-la" que, como sabem, é do mesmo autor do livro "Como Estava Dormindo Um Dia e Acordei e Vi Deus Mas Fugi Porque Ainda Não Tinha Tomado Banho e Não Queria Causar Má Impressão Apesar de Deus Ser Omnipresente e Saber Que Cheiro Mal o Que Pode Prejudicar Seriamente a Minha Ascensão ao Reino dos Céus o Que Iria Traumatizar a Minha Mãezinha Que Deus a Tenha". Esta entidade é representada por personagens como (atenção, isto é verídico) Malaclypse, o Jovem; Mordecai, o Asqueroso; Fang, o Deslavado; Harold, Senhor do Fator Aleatório; Onrak, o Retrógado., entre outros". Correm rumores de a Socidade Discordiana está a pensar em adquirir os préstimos de Bibi, o Pedófilo; Santana, o Galã; Trappatoni, o Senil; Paulo Almeida, o Veloz; Liedson, o Palhaço Verde; Castelo Branco, o Másculo; Manuela Moura Guedes, a Imparcial; entre outros cujo nome ainda mora no segredo dos Deuses. Aqui ficaremos, impacientes, à espera de mais notícias dos Iluminados.
Um bem haja...

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Pérolas da Literatura Parte II - Ufologia

A próxima pérola chama-se UFOs, Espiritualidade e Reencarnação. Neste livro encontramos vários casos relacionados com ovnis e várias entrevistas com pessoas que presenciaram ou foram mesmo raptadas por estes. Depois relaciona ovnis com reencarnação e dá várias explicações acerca do fenómeno (fenômeno em português do Brasil) extraterrestre. Tudo, obviamente, apresentado da forma mais científica e racional possível. Se pensam que os Americanos acham que os ovnis vão sempre lá parar é porque não conhecem os brasileiros. A meio do livro encontrei um caso que me suscitou um interesse especial: o caso Varginha. O estudo do caso foi levado a cabo pelo renomeado advogado/ufólogo Ubirajara Rodrigues. O seu nome e as suas ocupações transpiram credibilidade. Várias pessoas, supostamente, avistaram um ovni que se despenhou rapidamente. Aqui entra a saga de duas irmãs e uma amiga (L, V e K - nomes fictícios), que a caminho de casa, já de noite, decidiram ir por um atalho e deram de caras com "uma criatura agachada junto a um muro (.) pele marrom, viscosa, olhos enormes de cor vermelha e três protuberâncias na parte superior da cabeça (.) não notaram sinais que indicassem a presença de uma boca (.), apresentava ainda muitas veias saltadas". Deixo aqui, cortesia dos meus contactos dentro do mundo da UFOlogia , a verdadeira história de Varginha: (atenção, ler com sotaque)
L - Nossa, já é de noite e tá tão escuro, vamo pra casa.
V - Sim, vamo, ma já que tá tão escuro vamo pelo atalho pelo meio da mata, A nossa aldeia já é tão mal iluminada, mais vale ir pelo escuro mesmo.
K- Oh diacho, tá ali um bicho do mato agachado! Que horror! É o Frota!
L - Não liga K, é apenas o vovô cagando na mata!
V- Não L! Não Não! Olha só os olhos vermelhos e a pele marrom! E os altos na testa?
L - Pois, tá vendo? É o vovô mesmo! Vá, vamo pra casa que vai começar a novela!
V - Eu vou lá. Vovô? Vovô? A vovó voltou a expulsar vocemessê de casa? Vocemessê voltou a deixar a dentadura e o capachinho na sopa? É, garotas, eu acho que vovõ não se tá sentido bem não. Olha só quanta veia saltada gente!
K - Eu acho que não é o seu avô não, olha só! Não tem boca!
L - Não liguem não galera, ele tem problemas de trânsito intestinal, só isso! Se demorassem horas também iam encolher a boca e saltar veia né? Daí que custa gente, deixa o vovô em paz!
Criatura do Espaço - errrrrrrrrrrrrrrrr, errrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr.
K - Ouçam, ele disse qualquer coisa.
L - AH! FUJAM! Vovô tá querendo que o limpemos!
E assim fugiram para casa enquanto choravam compulsivamente, afirmando ter visto o demónio. Quando Ubirajara voltou, a criatura já não estava lá, e várias pessoas afirmaram ter visto helicópteros do exército a rondar a área. O mistério subsiste.
Este livro mitico também desvenda uma das mais antigas duvidas da humanidade. O autor dá razão a quem duvida da vinda dos extraterrestres à terra, porque não faz sentido nenhum viajarem milhões de anos luz para cruzarem os nossos céus e voltarem para trás. E, realmente não faz, tenho que concordar. É então que ele sugere a resolução para esse problema: bases sub-aquáticas. Sim, bases sub-aquáticas. Quem não se lembra dos mistérios do triangulo das Bermudas? São apenas as bases a funcionar... Assim, já é totalmente plausível a vinda dos extraterrestres: querem sol e praia. Nada mais. Nadar, ver uns peixes, raptar e sodomizar uns quantos terráqueos, nada que os turistas ingleses não façam no Algarve.
Esta obra-prima também já foi vendida, sendo agora propriedade de uma personagem que cá vem muitas vezes, sobejamente conhecida pela sua voz anasalada (há quem o trate por fanhoso, eu não vou tão longe.) e pelo seu interesse em livros de matemática e agricultura. Só sei que se ele voltar aqui e não estiver fanhoso foram os extraterrestres. Agora deem me licença que vou alinhar a cabeça e o coração EEEEEEEE...

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Pérolas da Literatura Parte I - EEEEE....

Na já famosa encomenda dos 450 livros chegaram algumas pérolas da literatura contemporânea. Sem bem que denominar algumas delas de contemporânea é estar a denegri-las, porque algumas destas obras são eternas. Em seguida vou-vos apresentar passagens dos mais selectos e brilhantes livros que chegaram à nossa loja neste início de ano. Há que salientar também o facto de eles estarem escritos no melhor português do Brasil que possam imaginar.
Começamos com o livro “11:11 A abertura dos Portais”. E o que é o 11:11? Pergunta o nosso leitor mais incauto. O 11:11 é um porta dimensional, aliás, é muito mais que isso, e passo a citar: “Quão numerosos são os que tiveram as suas vidas pautadas por súbitas pausa [sic] no que quer estivessem fazendo, para, ao olhar para o relógio, constatar ser onze horas e onze minutos?”. No mínimo isto é misterioso... Portanto, atenção se olharem para o relógio e forem 11:11, são especiais e juntam-se assim (sem quaisquer encargos) ao restrito grupo de pessoas que olharam para o relógio e eram 11:11. Vou tentar entrar, vou olhar para o relógio. Raios, são 21:40, não vou a lado nenhum. E continuam: “O 11:11 nos fala, (…) nos permite acessar a outra dimensão.” É verdade, conheço eu mesmo pessoalmente pessoas que, olharam para o relógio e eram 11:11, e passado poucos segundos estavam nas 11:12, viajando assim para o futuro. O livro fala também dos rituais a fazer quando forem 11:11 (atenção, de 1992. Eu sei que já passou, mas isso é secundário. Estejam à vontade para prosseguir com o ritual num dia à escolha, afinal, todos os dias são bons dias para fazer figuras ridiculas) façam alguns movimentos com os braços, de forma mais ou menos aleatória e que os faça fazer figuras tristes, a que o autor (Solara de seu nome) dá o nome de “Movimentos Unificados”.
Um dos primeiros movimentos que o autor descobriu foi o alinhamento cabeça coração. Diz então o autor: “… eu estava tendo grande dificuldade em alinhar minha cabeça e meu coração…”. Sendo que a cabeça está centrada no corpo e o coração do lado esquerdo, percebe-se a dificuldade. É então que ele descobre um exercício (o tal alinhamento da cabeça e coração), que consiste num movimento dos braços como se fosse um arco-íris. Ao fazer este movimento, diz o autor: “Faça o som EEEE. Enquanto faz esse som visualize o som EEEE.” Ora, escusado será dizer que quando eu estava a fazer o movimento fui interrompido por um cliente que me perguntou se eu estava-me a sentir bem ou se precisava de ajuda.
O autor dá também especial atenção aos golfinhos, que considera “grandes Mestres” que se irão unir à presença estelar de “A-Qua-La A-Wa-La”. Devo advertir para não dizerem isto em voz alta porque correm o risco de, além de passarem por loucos com os movimentos unificados, darem a ideia de terem deficiências na fala. Isto pode prejudicar gravemente a vossa vida sexual.
O mesmo autor dá depois uma lista de acontecimentos por tudo o mundo no 11:11. (5:11 no GMT, porque estes jovens estão atentos às tecnologias):
Austrália: Luzes laranja foram vistas por milhares de pessoas.
Egipto: Jean Houston liderou um grupo de 90 pessoas nos movimentos unificados em Luxor
Nova Zelândia: Uma senhora foi até ao Monte Cook e um Maori viu dois seres altos em Auckland
Pólo Norte: Uma pessoa ancorou a energia aqui.
Portugal: Santana Lopes foi nomeado primeiro-ministro.
Reparem no número decrescente de intervenientes nos vários locais, e no crescente ridículo das situações.
Quando vi este livro pela primeira vez pensei: Boa, mais um para ficar a apanhar pó. Mas, não, vendeu-se. E logo dois ou três dias depois de ter chegado, e ainda para mais sendo um livro que custa 30.90€. 30.90€… Está a ficar caro fazer figuras tristes enquanto se grita EEEE…

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Do Outro Mundo...

Adoro aqueles programas em que os apresentadores perguntam, em jeito de conclusão, aos distintos convidados o que gostavam de ver no ano que agora se iniciou. Fim da fome, início da paz mundial, cura para todas as doenças. Chamem-me modesto, mas eu peço apenas para alguém não voltar a por o cd do Phil Collins o dia todo aqui no centro comercial. É mau demais para ser descrito por palavras, e a única imagem que me vem à cabeça sou eu com uma corda à volta do pescoço a tentar fazer com que o banco que me segura caia de uma vez no chão. E eis que, quando eu pensava que tinha atingido o pico do sofrimento audível, começam a intercalar Seal com Phil Collins. Durante horas. Basicamente é o mesmo que alternar entre qualquer tipo de tortura medieval com jogos do Benfica este ano. É mau demais para suportar.
O mais curioso é que eu já tinha escrito isto há alguns dias. Confesso que pensei em não me pronunciar relativamente a este assunto, mas após três dias de audição contínua e ininterrupta a minha mente enlouqueceu de vez. A minha mão está constantemente a tentar agarrar em objectos pontiagudos e a espetá-los nos meus ouvidos. E eu sem controlo nenhum sobre as minhas acções. E, o pior de tudo. A música ainda toca. E toca.
Recentemente recebemos a visita de uma reconhecida autora de livros para os mais estu.. perdão, os mais crentes: Alexandra Solnado. Paladina das conversas com o além, Alexandra Solnado tem mais um best-seller em mãos: O Eu-Superior. Consta que, fruto das suas avançadas comunicações com o outro mundo, a Vodafone está a pensar em contratá-la. Vodafone que, por sua vez, já tem um bom historial de relações com entidades que falam tu cá tu lá com o além. Basta ver o Benfica: tem uma equipa que valhas nos Deus. Nunca uma equipa pôs tanta gente a rezar. Voltando à Alexandra Solnado, cá esteve ela, a espalhar a sua boa disposição por todos os cantos deste estabelecimento. Para quem desconhece a obra (shame on you) Deus trata-a carinhosamente por "cabritinha". Ora, depois de a ter atendido, já fiquei a perceber porquê. A sua má disposição é divinal. Ela queria um livro, não sei bem precisar qual porque estava maravilhado com a sua presença, e pareceu bastante chateada por não haver. Tenho umas questões a fazer: Porque não perguntou a Deus se existia ou não? Não saberá mais Deus do que eu, um mero livreiro? Será que Deus também tem erros de stock? São questões pertinentes. Tendo inquirido Deus, ela escusava de ter vindo cá, poupando a si o trabalho e a nós a sua boa disposição.
Outra situação curiosa prende-se com um facto que ocorre com alguma frequência: autores virem aqui à livraria para saber do sucesso (ou falta dele.) dos seus livros. Embora possa saber isso através da editora (fonte, ainda que duvidosa, bastante mais fiável) adoram vir aqui perguntar. Obviamente que, todos os livreiros como eu, não temos mais nada que fazer do que satisfazer os pedidos dos requintados autores. E convém termos atenção e decorar todos os stocks e respectivos movimentos de cada livro de cada autor português. O que é ainda mais engraçado é que os autores perguntam pelos livros mas nunca se assumem como tal. O problema é que se esquecem duma coisa: muitas vezes nós conhecemo-los. Fazem figura triste. Outras vezes ainda é melhor: não fazemos ideia de quem eles são, e à pergunta "Este livro tem vendido bem?" surjam respostas, como inclusivamente eu já ouvi: "Isso? Não, isso não vende nada, as pessoas não demonstram interesse nenhum nisso!", provocando expressões hilariantes nos autores. Imaginem que vem um autor chamado Tony (nome fictício, acontecimento verídico) aqui à loja. Ao indagar das vendas do livro de um autor chamado Tony, uma colega perguntou: "É o autor?" e ele respondeu: "Não, não, tenho só curiosidade!". Ao acabar de dizer isto, aparece uma senhora à porta da loja que diz: "Então Tony, o teu livro tá a vender bem?". O constrangimento é uma coisa tão bonita.
Esta mesma colega participou noutro acontecimento caricato. Num momento calmo na loja, entra uma senhora completamente desvairada. Aproxima-se do balcão e diz, indignadíssima: "Fui ali à Fnac e, veja-me bem isto, nenhum funcionário sabe quem é o Tchaikovsky! Nenhum! Que vergonha!". A resposta da colega foi a seguinte: "Pois, sabe, a culpa não é deles. É da administração. Não lhes dão formação, não os ensinam, como quer que saibam?" Os níveis de indignação da senhora rebentaram a escala: "Eu vou ali à Fnac e dizem me que não sabem quem é o Tchaikovsky e agora, ainda pior, venho aqui e respondem me isto?" Faz me lembrar qualquer coisa. Ela ficou chateada , concerteza que ficou chateada. Secalhar é melhor a senhora ir a algum lado onde inclusivamente lhe dirão "ah e tal sim senhor."...