quinta-feira, setembro 02, 2004

Profecias

Antes de mais, queria aqui esclarecer um assunto. Têm, ultimamente, surgido dúvidas quanto à veracidade dos meus relatos e à minha sanidade mental. Bom, quanto à minha sanidade mental (ou falta dela), pouco há para acrescentar. Agora no que toca à veracidade dos eventos aqui relatados, por mais inexplicáveis e inverosímeis que sejam, são a mais pura verdade. Os meus próprios colegas, quando não assistem a algum acontecimento, duvidam. E eles passam por situações semelhantes, por vezes. Mas eu, pareço predestinado a encontrar a nata da clientela. E hoje, aconteceu mais uma situação que os meus colegas não acreditam quando lhe conto. Mas, desta vez algo foi diferente. Tinha do meu lado o venerável mestre livreiro. Aliás, devo dizer, foi mesmo ele que descobriu tamanha pérola. Uma senhora com pouco mais de 30 anos aproxima-se da entrada. Pára, decidida, junto ao local onde se encontra um cartaz com o nosso Top semanal, num pedestal. Até aqui, tudo bem. Mas, eis senão quando ela, sem qualquer tipo de aviso retira o top cuidadosamente do seu pedestal e caminha com ele em riste, loja adentro. Temi o pior. O top enrolado seria indubitavelmente uma arma perigosa, e tanto eu com o mestre livreiro estávamos em alerta. Surpreendentemente, passou pelo balcão, seguindo para o lado direito da loja. Em seguida, e debaixo dos nossos olhares espantados, ergue bem alto o top, e colocou-o mais ao menos nivelado com o top que se encontra do lado direito do balcão. Aí, comparou os livros um a um. Satisfeita com o que conseguiu apurar, voltou para a entrada da loja e saiu, colocando depois o top no seu berço habitual. Desapareceu por entre a multidão, sempre sem dizer uma única palavra. Há pessoas que gostam mesmo de marcar a diferença, seja de que maneira for.
Do mesmo modo, se eu dissesse que, quando estava a atender um cliente, olhei para o lado direito da loja e vi nem mais nem menos do que um miúdo de origem asiática vestido de homem-aranha com sapatos de vela, sentado com as pernas cruzadas em cima dos livros que estavam de lombada, acreditavam? Se me contassem, eu não acreditava. Aliás, eu mesmo tive de olhar outra vez, não fosse algum glitch na Matrix. Mas, não era. O miúdo estava mesmo lá, descansado, com o seu fato de homem-aranha, e sapatinho de vela com as meias por cima do fato. Esfreguei os olhos e olhei outra vez, ele não desapareceu. Senti-me tentado a lançar um livro na sua direcção a ver se o livro lhe acertava, para desfazer as minhas dúvidas. Mas, ainda estragava o livro. E mesmo que fosse algo que dificilmente se pode considerar livro, como o Ciber Apanhados, teria de entrar em despesas, o que não é nada agradável. Passado algum tempo, o aracnídeo oriental saltou da zona onde estava e foi para o meio do chão ler, fugindo algum tempo depois. Nunca mais o vi. Desapareceu tão depressa quanto apareceu.
Também hoje, pediram-me um livro mítico. A PROFECIA DO CELESTINO. Atenção aos mais desatentos, não confundir com A Profecia Celestina, famoso livro que se pode encontrar na zona do esoterismo. Não. A senhora disse explicitamente a Profecia do Celestino. Para quem não sabe, Celestino foi um mito dentro do mundo do futebol. Defesa central ao serviço do Famalicão, esteve presente na última grande goleada do Glorioso SLB no saudoso Estádio da Luz. Ele não esteve só presente. Ele participou activamente, contribuindo com 2 auto-golos para a folgada vitória por 8 bolas a 0. E mais, um dos golos foi mesmo de belo efeito. Celestino, esse terror dos guarda-redes da mesma equipa, não voltou a ter outra actuação tão marcante, caindo posteriormente no esquecimento geral. Mas, não deveria ser esquecido. Não é qualquer jogador que marca duas vezes numa só partida a favor do Benfica. Parece que ainda o vejo, pulando alegremente, qual bailarina transformista, caracóis castanhos ao vento, marcando que nem uma doida na própria baliza. Bons velhos tempos.
As devoluções vão-se sucedendo, impiedosas. Tal como o livro do Pauleta, muitos outros vão, talvez nunca mais voltando. Falando em Pauleta, parabéns pela nomeação para capitão da selecção. Já agora nomeavam um dos postes da baliza capitão, assim sempre havia a probabilidade da bola bater lá e entrar. Agora, com o Pauleta… Um dos livros devolvidos foi o formidável Diário do Miguel. Quem é o Miguel? – Perguntam vocês. Não sei, e pelo número de vendas, também ninguém quer saber. 0 livros vendidos, em 3 meses. É obra. Força Miguel, continua que vais ser alguém.
As pessoas tendem a apelidar de OBRA qualquer tipo de livro ou publicação literária. Talvez a culpa seja minha, mas não me soa nada bem ouvir dizer: “O Cláudio Ramos tem mais alguma obra além desta?” Bom, que eu saiba ainda não tem nenhuma obra. Mas, há que manter a esperança…

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