sábado, setembro 11, 2004

Clic

Um dos cantos da nossa loja está atulhado de BD. Todo e qualquer esforço para o arrumar vem sempre a revelar-se algo de sobre-humano. Mas, atenção, nós nunca desistimos. Na BD encontramos um pouco de tudo para todas as idades. E existe uma BD em especial que tem merecido maior destaque. É uma publicação para adultos, do autor Milo Manara. Existem várias obras, mas a mais curiosa parece ser a trilogia O CLIC. Já não é a primeira vez que, as BD de Manara são encobertas por algum monte de outras BD, talvez por alguma senhora mais zelosa. Mas, mais cedo ou mais tarde, algum transeunte repara nos seus encantos e coloca-a no seu devido local. E de que é que trata O CLIC? Este clic, refere-se a uma máquina que apenas com um simples e inocente clic, deixa as criaturas do sexo feminino tresloucadas de desejo. Ora, parece-me correcto e extremamente propositado. Imaginem um cientista, magnifico estudante e com um futuro brilhante à sua frente, quando recebe os parabéns dos seus professores: “Parabéns rapaz, tens um grande potencial. Tão grande, que podes um dia vir a fazer algo para o bem da humanidade e salvar o mundo”, e o cientista responde: “Qual quê, vou inventar uma máquina para ver gajas nuas”.
Outro fenómeno curioso é o livro O DIÁRIO DE SOFIA. Este livro conta a história de uma jovem na sua adolescência, e tem sido um enorme sucesso.
Mas, algo de estranho se esconde por trás desta Sofia. Talvez ela não seja tão inocente como quer fazer parecer. Senão vejamos: no primeiro livro, a Sofia tem 17 anos e está a entrar para o 10º ano. É no mínimo de estranhar, com 17 anos estava O Livreiro a ser inundado de gema de ovo e cebola, enquanto me pintavam a cara com verniz, nas praxes da Universidade. E ela no 10º ano. Não sei, mas pode ser sinónimo de uma vida ímpia, envolvendo substâncias ilícitas e actividades criminais, assim como insucesso escolar. Mas, há mais. No segundo livro, Sofia entra para o 11º ano. Como? Ninguém sabe. O curioso é que Sofia continua com 17 anos. Ou seja, vamos supor que Sofia entrou para o 10º ano em Setembro de 2003, então com 17 anos. Em Setembro de 2004, ao entrar para o 11º ano, continua com 17 anos. Além de burra, aparenta ser imortal. É no mínimo suspeito. Esta Sofia não pode ser um bom exemplo para os jovens. Uma possibilidade já adiantada é que Sofia, aparentemente uma simples jovem, sofra do síndrome de Mantorras, e tenha rasurado o seu B.I., tornando assim impossível determinar a sua real idade.
Nos raros momentos em que a paz e o silêncio reinam na loja, aproveito para ficar a conhecer um pouco das mais variadas obras dos mais diversos sectores da loja. Um destes dias, debrucei a minha atenção sobre a área da Arte, Pintura e Arquitectura. Vasculhando os livros à procura de algo que me despertasse uma curiosidade especial, deparei-me com um pequeno livro chamado O LIVRO DA ARTE. Este livro é uma compilação de 500 obras, com uma pequena descrição/apreciação crítica. Fui vendo, obra a obra, e admirando a qualidade e o talento dos mais variados autores. Se é verdade que existem obras impressionantes, existem outras que são difíceis de definir. Génio? Loucura? Falta de jeito? Só Deus sabe. O caso paradigmático do que acabei de dizer é uma pintura (?) de Robert Ryman. Imaginem, e não é difícil, uma tela branca. Uma camada de esmalte branco aplicado numa folha de alumínio. Completamente branca, apenas fixada à parede por parafusos de metal. Agora, reparem na brilhante descrição do crítico: “ (os parafusos) fazem parte integral da composição nu, que tem por finalidade libertar o quadro de qualquer traço ilusório de pintura. (…) Dá ao espectador uma grande tranquilidade, que é constante na sua intensidade; (…) demonstra a interacção única entre a planura da superfície do quadro e a parede lisa por trás. A relação da obra com o Minimalismo é revelada pela ausência de emoção e ilusão na sua construção. (…) Concentra-se na ênfase dada às qualidades dos materiais usados.” E foi neste momento, quando li este delírio literário que a minha vida mudou. Quando for grande quero ser crítico de arte. A espontaneidade, a classe, a imaginação… Genial mesmo, brilhante. Se este senhor diz isto acerca de uma tela em branco, imagino o que não dirá do resto. Os meus maiores e sinceros parabéns. Quando releio aquelas palavras, aparentemente tão simples, perco toda e qualquer vontade de escrever, seja o que for. A imagem da tela e da crítica surge, como uma assombração, na minha mente e aí sei que não sou digno de escrever. Talvez um dia chegue ao seu nível…

1 comentário:

Anónimo disse...

87% - Muito Bom.