segunda-feira, dezembro 26, 2005

Crónicas de Natal 7 - O Pior Já Passou

Chegam assim ao fim as Crónicas de Natal, e não posso terminar sem dizer que este foi um Natal extremamente produtivo. E, como diz o título, o pior já passou. Quem aguentou esta última semana aguenta tudo. O próprio Rambo terá passado uma semana numa loja de um centro comercial português antes da sua deslocação para o Afeganistão, em Rambo 3. Como diz ele tão eloquentemente no seu filme, "errrr uuggghh ahhhh", que, traduzindo assim livremente, quer dizer: "Com a breca, isto no Afeganistão está mau, mas prefiro os Talibans a estar fechado 8 horas naquele centro comercial." Como eu concordo com ele, como eu concordo...
Claro que o dia 23 ainda teve assim uns acontecimentos Para-Anormais. Tivemos um cliente simpático que chegou ao balcão com uma pilha de livros e disse: "olhe, quero levar isto e quero 250€ em cheque-livro" (de vez em quando pedem-nos cheques FNAC, pelo menos não foi assim tão mau). Lá preencheram então os cheques-livro enquanto eu ia processando o resto da venda. Quando já estava tudo terminado, disse o valor total ao cliente, algo que rondava os 400€. E diz ele: "Não, desculpe, você não percebeu". E eu: "Ah, pois, é normal, sabe que eu tenho a quarta classe tirada à noite (e com cábulas) logo o meu nivel de compreensão é bastante baixo..." E continou: "Eu quero comprar os cheques-livro e depois comprar os livros com os cheques". "Ahh.." pensei eu... Esta é nova. O cliente compra cheques e depois usa os imediatametne em livros. Ena pá, o que as pessoas não arranjam para me dar trabalho. Que tal isto, não sei, é só uma ideia, mas pensem comigo: o cliente vem com o cartão multibanco e faz um transferência para nós de 1000€. Depois nós damos-lhe os 1000€ em numerário. E ele troca por cheques-livro. De 5€ cada. Depois, compra uns livros com os cheques. Que depois troca pelos livros que realmente quer. Isso sim, era divertimento.
Finalmente recebemos alguns audio-books. Esta chegada inesperada abriu ainda mais os horizontes do nosso caro colega Gulbenkian, que vê nos audio-books uma oportunidade de emprego. Já o estou a ver, com aquele seu timbre grave, qual Zeus da era moderna, a ler o clássico "O Verdadeiro Diário de Uma Noiva", da colecção Champanhe e Morangos" da Editorial Presença: "Estou completametne passada com o meu sonho erótico com o Rick. Depois de tocar congas no meu rabo nu, tocou em toda eu. Durante horas. E muito bem. " Seria épico. É só de mim ou "tocou em toda eu" não soa nada bem? Quer dizer, dito por ele deve soar bem, isso nem se pôe em causa, o homem é um verdadeiro tenor da leitura.
Mas encontrámos uns personagens memoráveis, não haja dúvida. O homem da camisola verde e relógio de ouro, sempre ao telefone, que berra do outro lado da loja, com a loja cheia: "QUALQUER COISA DE BOM TEM? QUALQUER COISA DE BOM?". Uma coisa ou outra, mas está reservada para a minha esposa. Claro que ninguém lhe respondeu, sabíamos lá se ele estava a falar para o telefone ou para nós no balcão. Então decidiu aproximar-se, e dirigiu-se à minha colega: "COMO É QUE SE CHAMA O ULTIMO LIVRO DO JOSE RODRIGUES DOS SANTOS?", berrou ele, como se estivesse na praça a vender tomate fresquinho. "Codex 632" disse a colega. "O QUE?" berrou ele. "Cortex 632" repetiu e "O QUE?" disse ele. A cada repetição ele ia chegando-se mais para a frente, estando já numa proximidade constrangedora. Finalmente lá ouviu, quando percebeu que se largasse o telefone enquanto fala com outras pessoas dá mais jeito. E é mais civilizado, mas isso ele não deve perceber.
E os clientes do descontinho? Eles andam sempre aí. Devido a pressões da concorrência tivemos alguns títulos com 20% de desconto. E há um cliente que sempre que vem cá, mesmo que compre livros de 4€, vem sempre perguntar: "quanto é que fica o meu desconto?". Todas as vezes que cá vem. Eu já sei que ele quer desconto, mas ele frisa aquilo todas as vezes. Então desta vez, lá chegou ele com um dos títulos com 20% de desconto e perguntou: "quanto é que fica com o meu descontinho?". E eu disse, em tom de brincadeira: "Com o seu desconto fica 17,11€. Com o desconto para todos os outros clientes fica em 15,21€. Qual prefere?" Ele ficou alguns segundos a pensar, não devia estar a perceber bem. Finalmente lá deve ter visto a luz e disse que prescindia do seu descontinho.
Pior do que isto é o cliente que, sempre mal humorado, chega ao balcão e ordena que lhe deêm 10% de desconto. E, ainda pior, uma das vezes que ele cá veio, tinha a minha colega na caixa, eu estava no computador do lado a trabalhar. E ela, cordialmente, deu-lhe os bons dias, apenas para o cliente dizer-me isto, da pior forma possível: "OLHE, DIGA Á SUA COLEGA PARA EMBRULHAR ISTO E EU TENHO 10% DE DESCONTO". Além de não ter respondido educadamente à saudação, ainda a ignorou por completo e disse-me para eu lhe dizer o que ela tem de fazer. Obviamente que não fiz nada, saí para guardar umas facturas. Tem problemas em falar com mulheres é? Deixam-no nervoso? Olhe que há cura para isso. E porquê tão mandão? A sua esposa não o deixa ficar com o comando é? Gozam consigo no balneário do ginásio porque o Zézinho é pequenino? Deixe lá, mais ano menos ano deixa de servir para alguma coisa. Secalhar já nem serve não é? E assim vem descarregar nos pobres trabalhadores do comércio livreiro.
E assim se passou mais um Natal, espero que tenha sido bom para toda a gente.
Até breve...

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá...
Quando leio os teus textos não consigo evitar um orgasmo... São rios e rios de aguinha salgada que me escorre pelas pernas...
Os meus parabens e vou aproveiar para ler mais qualquer coisa e meter tres dedos...
Beijokas no prepucio...
Faustina Jacinta Leite