quinta-feira, dezembro 22, 2005

Crónicas de Natal 4 - Mania da Perseguição

No Natal vale tudo para vender. Promoções vertiginosas, sessões de autógrafos, descontos especiais. E tem resultado bem, pelo número de vendas que temos tido. Por ocasião de uma destas sessões de autógrafos (com o grande José Rodrigues dos Santos. Zézito, se me estás a ler, um grande bem haja) a editora forneceu um expositor de cartão com a fotografia do autor do livro “Codex 632” (que tem vendido como se o próprio livro contivesse o segredo da vida eterna. Ou isso, ou o segredo de como conquistar a Isabel Figueiras. O que vos parecer mais importante.) que foi colocado junto à porta, para promover o livro bem como a respectiva sessão de autógrafos. E isso tem dado azo a situações curiosas.
Primeiro temos aquelas clientes que entram na loja e berram “Ai!” de susto. “Parece verdadeiro!” exclamam assustadas. É essa reacção que vão ter quando o encontrarem em pessoa? Não quero ser chato, mas se encontrarem o José Rodrigues dos Santos não gritem “Ai!” de susto. Parece-me mal. Depois temos aquelas clientes que passam à montra, que se assustam, vão ver se é real, e chamam os maridos para verem como parece verdadeiro e, inclusive, “é mais bonito em pessoa”. Ou em cartão. Depois, temos aquelas clientes que dizem que o cartão está, e passo a citar, “a olhar para mim” e chama os maridos para verem como o cartão as segue com os olhos. Ao que os maridos, plácidos como habitualmente, afirmam: “Sim, realmente isto está bem conseguido…Ele segue-te mesmo… E logo a ti que és bonita”.
Torna-se incomodativo estar no balcão a tentar trabalhar e estar alguém constantemente a berrar de susto devido ao cartão. No outro dia cheguei mesmo a dizer ao meu colega: “Gulbenkian, vai dizer ao Zézito para parar de assustar as pessoas, se faz favor.”. Ele não foi porque diz que eu estou sempre a interrompê-lo.
Por falar em colegas, encontrei uma vidente que me jurou a pés meio juntos (tinhas as pernas tortas, não dava para mais...) que viu na sua bola de cristal o Baixas a trabalhar, por entre umas névoas. Uma charlatã, portanto.
Num destes dias que passou testemunhei um encontro mítico em frente ao balcão. Uma senhora com uma idade respeitável e um senhor também já com a sua idade encontraram-se no balcão, indo cada um pagar à sua caixa. Depois de duas ou três trocas envergonhadas de olhares, eis que a senhora toma a iniciativa: "Ahhhh.. Olá! Como está!?" ao que o senhor, espantado, respondeu: "Muito bem obrigado minha senhora, e a senhora, como tem passado?" Bem e tal, respondeu ela, e eu pensei que aquilo não passava dali, porque virou-se cada um para o seu lado. Mas eis que a senhora volta à carga: "Você é o José Antunes não é?" perguntou decidida, e a resposta surgiu prontamente: "Não, o José Antunes é o meu pai, eu sou o António Antunes.". Segue-se um pequeno e incómodo silêncio, e a senhora volta a perguntar: "Ah, então é o irmão do Miguel Antunes!" e o senhor retorquiu: "Não, isso é o meu tio!", segundo-se novamente o silêncio. A senhora, qual Petit das conversas de circunstância, não desistiu: "Ah, então foi o caro António que teve na tropa com o meu mais novo. Não foi?", "Não, isso foi o meu primo, o Manuel Antunes!" retorquiu o senhor. E eu lá atrás do balcão bastante interessado, não há nada melhor que telenovelas em tempo real, a TVI é que nunca se lembrou disto. Pensei em gritar: "O Zé Milho é filho do tio do professor de ginástica que traiu a mãe com a prima da mulher da limpeza!" mas pensei que talvez já tivesse a passar das marcas. Remeti-me ao meu habitual silêncio e deixei que aquilo se desenrolasse naturalmente. Passada a conversa das identidades, mesmo sem ter a certeza com quem tava a falar, a senhora continuou com as perguntas: "Então, diga-me lá, como é que vai a sua irmã Adelaide?". "Faleceu..." respondeu o senhor, seguindo-se o já habitual silêncio. "Ah... Pois, que pena... E a sua prima como vai?" insistiu a senhora, sendo brindada com a já esperada resposta: "Também faleceu...". Bom, depois de mais uma ou duas personalidades já falecidas, a senhora parecia não desistir, estava à espera de vê-la perguntar, sei lá, pelo Bocage, ou mesmo pelo D. Dinis. Eventualmente desistiu e partiram os dois, com um sincero desejo de Bom Natal, felizes da vida. Não me divertia tanto desde que a SIC passou em directo o circo para os funcionários do Benfica, em que o apresentador desafiou as crianças: "Agora gritem bem alto o que querem ver!" e as crianças gritaram em uníssono: "PALHAÇOS! PALHAÇOS! PALHAÇOS!" e o João Pereira levantou-se e acenou.
Boas compras (ha 95% de hipóteses de quem estiver a ler isto ainda não ter completado as compras de natal) e até à próxima!

1 comentário:

Anónimo disse...

este é talvex o melhor de todos,lol. a historia do engate é de morrer a rir.
rui