sábado, dezembro 24, 2005

Crónicas de Natal 6 - Milionários

O pior dia do ano já passou, e o resultado disso foi uma valente dor de cabeça. Mesmo assim, não podia deixar de vir aqui deixar umas notas para acabar este Natal em beleza.
Primeiro que tudo, devo dizer que já não posso aturar o Baixas e o Gulbenkian, se eles continuam com birras vou obrigá-los a dar "aquele" abraço como se fosse um árbitro de futebol e eles fossem o Paulinho Santos e o João Pinto (o João Pinto é o Gulbenkian, não só por ter jogado no Sporting mas devido aos pelos do peito).
Nestes dias tivemos a preciosa colaboração da Maria dos Embrulhos, futura Cientista da Educação. Perita em por livros mínusculos em embrulhos gigantes, lá estava ela sempre pronta a ajudar. Isto claro quando não estava colada ao colega Baixas. Aqueles dois... Ela dava-lhe tanta atenção e tantos mimos que o rapaz ficava fora de si. Ouvi dizer, e atenção, isto podem ser apenas rumores, que ele ficava tão maluco que se agarrava ao Gulbenkian, quando ela não estava lá, e dizia, enquanto alçava a perna: "Tou tão maluco, rega-me, rega-me, sou uma Acácia!". Felizmente nunca assisti a nada disso. A presença da Maria dos Embrulhos é sempre bem-vinda, volte sempre! (Mesmo que o Gulbenkian não saiba explicar-te nada da filosofia de Nietzsche, apesar de ser estudante de Filosofia...)
Quando eu e o Gulbenkian partilhamos o balcão tudo pode acontecer. Devemos ter algum efeito no campo magnético da terra ou qualquer coisa do género, porque acontecem sempre as coisas mais incríveis. No início de Dezembro, numa manhã aparentemente calma estava eu descansado no balcão enquanto o Gulbenkian arrumava a loja como se não houvesse amanhã. Lá estava ele, junto à informática a arrumar quando chega um senhor perto dele. Os dois encetam o que parece ser uma conversa normalíssima, até que o Gulbenkian desmancha-se a rir. E eu, lá do fundo no balcão a ver aquilo tudo e a pensar: "Hmmm.. Que é que se passa ali? Não me digas que o cliente pediu ajuda para comprar um livro de informática e ele indicou-lhe o Timbuktu (como faz com qualquer pessoa que peça seja que tipo de livro for)". Não liguei mais, mas a verdade é que continuavam a rir-se. Sem nada o fazer prever, o senhor dirige-se para o balcão, mas ao ver a quantidade de gente que por lá andava voltou para trás. Tentou duas aproximações, sempre sem sucesso, e eu sempre a vê-lo, tinha uma sensação que não vinha aí nada de bom. Quando finalmente consegue chegar até mim, diz o seguinte: "Já que o senhor é tão sabichão, foi o que o seu colega me disse, diga-me se tem o livro com os números do Totoloto que vão sair hoje à noite. Se não tiver todos, pelo menos uma parte...". A minha resposta surgiu imediatamente: "Peço desculpa, mas se tivéssemos esse livro ele seria para mim que eu bem preciso!". O senhor desatou-se a rir e apertou-me a mão: "Parabéns, você percebeu, era uma piada, é preciso é levar a vida na brincadeira, saúdinha! O seu colega não percebeu!". Então o cliente contou-me o que se tinha passado com o Gulbenkian. Ele tinha-lhe feito a mesma pergunta, e não é que o Gulbenkian ficou todo encavacado a tentar indicar sítios onde o livro pudesse estar. Só quando o homem o agarrou e disse: "É uma piada, PI-A-DA!" é que ele percebeu. Claro que depois mandou o cliente vir ter comigo para ver se eu caía. Não satisfeito por ter enganado 50% dos nossos funcionários, decidiu ir à FNAC tentar a sua sorte. Passado alguns minutos voltou todo contente porque todas as pessoas com quem tinha entrado em contacto na FNAC caíram na sua piada. Já devia saber que o pessoal aqui é (quase) todo mais inteligente do que na concorrência. E definitivamente com mais sentido de humor.
Há que adorar alguns dos pedidos deste Natal. Uma pessoa pensa que já ouviu tudo, mas não... Desde a senhora que queria um "Livro infantil daqueles que se abrem" até à senhora que queria um livro, mas a única indicação que me sabia dar era que "é um livro de papel" até ao senhor que quer o "Cortex 632", isto ouve-se de tudo. E, claro, depois de um reportagem na TV sobre o Mein Kampf, temos as pessoas a pedir a "biografia do Hitler", "a autobiografia do Hitler", "qualquer coisa dos relatórios médicos do Hitler", "qualquer coisa dos gostos pessoais do Hitler", e tudo porque viram uma "PUBLICIDADE" (?!) na televisão que dizia que comercializávamos o livro. Eu sugiro que deixemos de colocar avisos de segurança em alguns utensílios e deixemos a selecção natural agir naturalmente...
Um Bom Natal para os meus colegas que trabalham hoje (todos menos eu) e boa troca de prendas!

1 comentário:

Anónimo disse...

Numa época deveras niilista (Nietzsche), há nas lonas das tuas palavras um sibilino sorriso… desculpa, mereces mais; uma estrepitosa gargalhada...
A ti meu caro livreiro (que bem conheço e recomendo) que a sinceridade destas minhas, quiçá, humildes palavras façam cócegas no teu peito carente de penugem – esta não é uma frase gay, o seu conteúdo tão só metafísico…
Um bom natal igualmente para os teus que tanto amas, e talvez, por isso mesmo, tanto te invejo…
Escreve e faz das palavras uma bola de neve gigante, ou se não uma pastilha elástica…
Um abraço

Gulbenkian