domingo, outubro 24, 2004

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Certamente, os mais atentos, já ouviram falar da polémica em torno do livro AS MULHERES NÃO GOSTAM DE FODER. Por uns míseros 2,5€ podemos descobrir esse mistério que preocupa a humanidade desde o seu nascimento. Escrito por um tal Alvarez Rabo, o livro foi, e segundo o autor, escrito em 21 horas, 23 minutos e 3 segundos. Uma eternidade, portanto… Em Viseu, o livro foi retirado da montra de uma livraria devido a ter sido considerado impróprio. Como não podia deixar este episódio contribuiu e de que maneira para o aumento da popularidade e consequentemente das vendas do livro. A simples presença do livro no estabelecimento, colocado entre os demais livros que vendemos, suscita situações curiosas.
Temos o caso mais comum, que é o do cliente que chega e diz: “Olhe, tem aquele livro?”. Claro que, não sabendo de que livro é que o senhor se estava a referir, a resposta só podia ser uma: Que livro? O cliente continuou: “O senhor sabe, AQUELE livro. E eu continuava a explicar ao senhor que se não me dissesse o título ou o autor que não saberia que livro era. “Aquele livro, que se fala muito agora, aquele…” Depois afastou-se, fez uns telefonemas. E voltou. “Boa tarde…” diz o cliente, e eu respondo na mesma moeda. “Tem aquele livro?” Este cliente deve ter graves problemas, pensei eu. E continuou “Aquele, aquele que tem aquele título, o senhor sabe…” Não, não sei. Não sou adivinho. “É aquele título, eu não posso dizer, não se diz”. Mas que belo contra senso: não se diz, mas lê-se. Adoro os falsos pudicos. Até que me fartei da brincadeira e lhe fui buscar o livro. Ele agarrou o livro como se tratasse da sua salvação. Obviamente que o título fica virado para si, para ninguém ver as imundices que ele anda a ler. Aparecem também alguns clientes que dizem: Quero o livro As MULHERES NÃO GOSTAM DE QUALQUER COISA. Realmente até seria um título apropriado, porque as mulheres não gostam de muita coisa.
Depois temos os clientes a sério, que chegam ao balcão e dizem: “AS MULHERES NÃO GOSTAM DE FODER, por favor.” O por favor no fim da frase, apesar de sinónimo de boa educação, dá um tom extremamente estranho à frase. Ou então: “Vim cá buscar a minha encomenda, AS MULHERES NÃO GOSTAM DE FODER. A sua colega que ligou foi extremamente profissional. Disse o nome com todo o brio e profissionalismo, nem se engasgou ou vacilou. Os meus parabéns.” Pelos vistos adorou ouvir uma mulher a pronunciar o título. Outros ficam maravilhados com o preço. 2.5€. Para uns rabiscos que parecem feitos por um miúdo de 8 anos e um texto por um miúdo de 12., parece me bem.
Como não podia deixar de ser, há sempre um cliente que quer ser maior e melhor que os demais. Chega ao balcão, atira o livro para cima deste e diz: “Agora é que vou perceber porque é que elas não querem!” Sem obter qualquer tipo de reacção, o cliente prossegue, triunfante: “Onde é que se paga, é aqui?!” e continuou “Bem, mas isto é tudo mentira, porque elas querem!”. Como se vê, o senhor era versado na arte das relações e, resta-nos aguardar e observar atentamente, na vã esperança de aprendermos qualquer coisa. “Elas gostam. Quando são bem fodidas gostam! Não acha?” Assentimos e limitamo-nos a aprender, enquanto o homem continuava: “Claro, quando chegam a casa bêbados e a cheirar a vinho elas não querem!”. Frase verdadeiramente sábia, digna de figurar num livro da Arte Plural. Depois, atira o dinheiro para cima da mesa. Muitas e variadas moedas. Em seguida, aponta e diz: “Quanto custa? Pode escolher, tire à vontade!” E lá foi ele, todo feliz da vida, pronto a descobrir um dos maiores e mais bem escondidos mistérios da nossa vida terrena.
E aí está, agora mesmo, mais um cliente na senda do conhecimento universal, chegou ao balcão e interrompeu as conversas que decorriam com os clientes e inquiriu, fanaticamente: “Vendem a playboy americana???” Não, não vendemos, provavelmente, com muita pena da maior parte dos nossos clientes.

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