terça-feira, junho 06, 2006

Porquê Eu?

Sem querer entrar em conspirações, acho que a maior prova de que o dia 6/6/06 não traz coisas boas é o lançamento do novo cd dos DZR’T. Imagino Satanás, no seu covil, a planear o seu regresso e escolher os seus súbditos: “Saddam, não… Muito velho… Bin Laden, não, pouca classe, vive numa caverna… O Goucha está ocupado… Hmmmm… Olha aqueles quatro abichanados que se abanam em palco como se fossem animais feridos… Sim, o terror! Vão ser estes os meus enviados para anunciar o fim do mundo! E que sons horrendos eles soltam! O quê Hitler? Eles estão a cantar?! Não posso! Tens a certeza?! Bom, se o dizes… Sim, sim, são estes os escolhidos!”
Desde os remotos tempos da antiguidade os filósofos como Sócrates tinham como hábito, para além de ler os diários desportivos, questionar tudo o que fosse possível questionar. Quem sou? Para onde vou? De onde venho? Porque é que raio sou sempre eu a atender os clientes mais tresloucados? Eram todas questões válidas. Quando confrontado com esta ultima questão, era frequente ver Sócrates chorar compulsivamente. E aqui estou eu, no século XXI, com a mesma questão. Porquê eu? Quatro pessoas numa loja. 25% de hipóteses de ser abordado por um qualquer louco. A percentagem parece jogar a meu favor, mas, obviamente, ele vem ter comigo. O que se seguiu foi algo de inqualificável. O senhor começou a pedir livros de 1928, e, obviamente, ficou chocado quando verificou que nós não tínhamos nada do que ele queria. Dai a maldizer o país, classificando-o como sendo de terceiro mundo, e a usar todo e qualquer palavrão comum da língua portuguesa foi um instante. “EU JÁ TIVE ESSES LIVROS, MAS EMPRESTEI E ROUBARAM-ME. QUERES O HERMAN HESSE? TOMA. E O LIVRO? TCHAU, NUNCA RECEBI NADA!” disse, enquanto fazia algo semelhante a uma dança, em frente do balcão. Depois falou da nossa livraria, de outras livrarias que tinha visitado. E isso levou-o a falar de lojas de roupa. Lá ia reclamando sobre os preços, enquanto dançava para a frente e para trás, soltando um palavrão aqui, um palavrão ali, como se fosse nada com ele. Segundo ele, ninguém quer dar quarenta contos por umas calças da Trussardi! Depois disse que eu não podia ter boa roupa porque estava ali, atrás de um balcão, e quando soube a marca da minha camisa explodiu novamente. Porque a marca em questão é demasiado clássica e está praticamente falida. E disse que “OS PORTUGUESES NÃO SÃO BRITISH! NÃO SÂO BRITISH!”. O que, indo ao fundo da questão, até faz sentido. Os portugueses são portugueses. Se fossem britânicos, já não eram portugueses. Eram britânicos. E continuou: “SE FOR A INGLATERRA TEM UM PRETO NO AUTOCARRO A DIZER TICKETS PLEASE! TICKETS PLEASE! E VOCE O QUE É QUE FAZ? MANDA O À MERDA! AGORA CA EM PORTUGAL? SE MANDAR O MOTORISTA, HOMEM OU MULHER À MERDA, ELE MANDA O DE VOLTA! SABE O QUE EU FAÇO? FUJO. SE ME MALTRATAM, FUJO. SE ME BATEM FUJO. SE OS POLICIAS ME MALTRATAM, FUJO. NUNCA BATI. SOFRI? MUITO! POR ISSO É QUE VOU SER CAMIONISTA!”. Eu, a esta altura, já estava a olhar em frente, a pensar no que iria fazer hoje, no que seria o jantar. E os meus colegas, sem saber bem o que se estava a passar, viam aquele cliente a saltar, dançar, berrar. Ele continuou, apontando para a tatuagem que ostentava no braço esquerdo: “E AGORA SOU GAY! Estou a brincar consigo. INDA ONTEM LEVEI UM PAR DE CORNOS! MAS ESTAVA PREPARADO! ERA UM HOMEM MARAVILHOSO! VAI A ESTA HORA A CAMINHO DE BARCELONA, NO SEU CAMIÃO!”. Lá está a tara por camiões. Mas o pior ainda estava para vir. “EU VOU SER CAMIONISTA. TENHO AULAS HOJE! SE FOR, VOU, SE NÂO, OLHA, FO… SABE O QUE EU FAÇO AO MEU CAMIÃO?” Eu já estava por tudo, mas nada me podia preparar para o que vinha a seguir. O cliente bate numa agenda do Rock In Rio e diz: “FAÇO ISTO!” E lambe o livro, de uma ponta a outra, da forma mais pornográfica e lasciva que possam imaginar. “FAÇO ISTO PORQUE AMO O MEU TIR!”. Já tinha visto muita coisa, mas um cliente lamber um livro de alto a baixo foi algo novo. Já estava desesperado a esta altura, sem saber o que fazer para sair dali. Ele não parecia ter intenções de se ir embora. E os meus colegas, simpáticos, não sei do que é que estavam à espera para por o telefone a tocar e dizer que era para mim. O cliente continuou a falar, sobre despedimentos prévios, idas a França (tinha sotaques inglês e francês irrepreensíveis), contactos com um gerente de uma grande entidade bancária nacional, que, segundo ele, remonta ao tempo da sua casa de 1610 de Manique. “E EU VIA O GAJO A VIR NA ESTRADA E DIZIA: EH GAJO! E TIRAVA AS MAOS DO GUIADOR! RESULTADO, CAI DA BICICLETA. E O CAPACETE? ESTAVA EM CASA!” Pronto, isto explica muita coisa. Antes de se ir embora, perguntou o meu nome e disse para eu não comprar nada na tal loja de roupa. E saiu da loja, abanando-se como se não houvesse amanhã.
E, tendo em conta que hoje é o dia 6/6/06, até podia ter razão…

3 comentários:

Trilby disse...

É o que eu digo sempre, os nossos Hospitais já não são o que eram! Nem um traumatismo craniano sabem curar!


... os DZR'T terão usado capacete em pequeninos...?

Anónimo disse...

Eles compraram capacetes mas não perceberam que era para colocar na cabeça e levavam-nos no braço. O objectivo não era protecção mas sim o chamar a atenção nos seus triciclos rosa com cestinho e com autocolantes do Ken and Fábio.

Anónimo disse...

Os DZR'T antes de comprarem capacetes deverião aprender que arte é mais do que o simles acto de vomitar palavras plágiadas.
Criticam Criticam, mas sabe-se lá que idade terão as galinhas que um tal de Zé Milho anda a comer. Depois admiram-se ..." Ah, e tal o virus é forte... Sofreu uma mutação." Pois claro que os DZER'T a comerem pintainhas... Aqela Crista não engana ninguém... são todos Galinófilos.

Mudando de Assunto... Seja Bem vinda Lara... Já tinha Saudades dos seus Posts abertos e liberais...:)