quarta-feira, junho 28, 2006

Live In Paris

Já não posso ouvir Diana Krall. Imaginem isto: 5 ou 6 horas seguidas, 3 vezes por semana, sempre o mesmo CD. Sempre. Eu já não aguento, torna-se difícil fazer seja o que for com a constante repetição das músicas. De vez em quando surge uma música nova, a aparelhagem carrega outro CD. Surge uma ténue esperança, mas logo logo aparece a Feiticeira, essa paladina da repetição musical, e volta a por o CD da Diana Krall. Como se não bastasse o factor repetição, também tenho que estar constantemente a dizer aos clientes o que está a tocar. Todos os dias alguém pergunta o que está a tocar. E todas as vezes que isso acontece, sinto-me muito tentado a dizer: “Gosta?! Então leve! Já!”, mas, a moral e os bons costumes impedem que faça isso. Mas, ainda há pior. Além da repetição e das perguntas, temos algo infernal, demasiado horrendo para ignorar: o dançar. E se eles dançam. Confesso que a utilização do termo “dançar” pode ser considerada inadequada, mas é um termo familiar para a maior parte das pessoas (veja-se, por exemplo, Jerónimo de Sousa). É vê-los ai, espalhados pela loja, a dançar. Depois de várias horas de estudo, devidamente fundamentado por alguma leitura técnica, consegui dividir os dançarinos em dois grupos distintos. O primeiro grupo, composto maioritariamente por homens, executa um rápido abanar ou bater do pé, sempre fora de ritmo, com ramificações ao nível do estalar do dedo ou abanar da cabeça. Basicamente parece que estão com espasmos. Eles tentam cantarolar alguma coisa, mas o som que emitem é altamente imperceptível. Geralmente encontram-se nos cantos da loja, soltando pequenos espasmos e tiques ao que eles julgam ser o ritmo da música. Usam calças beges e camisas lisas. O cabelo é geralmente grisalho. O segundo grupo é composto maioritariamente por mulheres, e a dança é mais ao nível da coxa (como movimentos para trás e para a frente) e do joelho (movimentos para a esquerda e para a direita). O abanar de anca é por vezes de tal forma que, se mascassem pastilha, fariam boa figura nas movimentadas noites do parque Eduardo VII. Geralmente encontram-se nas esquinas da loja, entre as gôndolas. Relativamente ao grupo maioritário, infelizmente não tenho em minha posse dados estatísticos e correspondentes gráficos, mas, com base nas minhas investigações, diria que o grupo dominante é o grupo que abana a anca. Sei que posso vir a ser condenado pelos mais variados quadrantes da comunidade cientifica por uma observação ousada e inovadora como esta, mas é assim que penso. Ontem temi pela vida. Do meio do nada, um dos adeptos do espasmo foi se deslocando ao longo da loja, na direcção de uma abanadora de anca. Bom, meus amigos, senti-me como se fosse um explorador a observar o acasalamento entre dois Pandas. Decidi afastar-me e manter me em silêncio. Não queria perturbar o momento. Foi fascinante. Olharam um para o outro, reflectiram-se sobre o ridículo da figura que observavam, o que levou a reparem no ridículo da sua própria figura. O senhor limpou a garganta e saiu da loja embaraçado. A senhora ajeitou o cabelo e isolou-se num canto a contar uns livros. A Diana Krall continuou a cantar, e eu, infeliz, imaginava a tampa do piano a cair sobre os dedos de uma canadiana (e não americana, como alguns incultos para aí apregoam...) loura…
No nosso balcão temos uns marcadores num expositor bastante curioso, e, obviamente, pouco prático. Digamos que a única utilidade que consigo deslindar é a sombra que lança sobre o monitor, impedindo que fique encadeado com os holofotes, enquanto escrevo estas linhas. Os marcadores dão mais trabalho do que dinheiro. É sempre comum ver putos ranhosos e pitas histéricas à procura do nome e seu significado. Soltam sempre uma leve risota por gostarem do significado do seu nome, ou arranjam sempre maneira de fazer troça do significado do nome dos companheiros. Mas, há sempre alguém que gosta de se desmarcar dos demais. Estava eu no back Office com aquele grande mouro de trabalho e colecionador de multas, Gulbenkian, quando ouvimos o seguinte comentário: “Filipe, amigo de cavalaria, Fransico, homem, livre, Aster… ASTER?! Que nome mais estranho!”. A jovem devia ter visto que estava a ler um marcador alusivo a uma flor. Sempre na ânsia de ir mais além, um cliente não quis ficar atrás: “Matilde, rainha da vitória, Daniela, juíza de Deus, João, agraciado por Deus, Gladíolo… GLADÍOLO?! QUEM É QUE SE CHAMA GLADÍOLO!? JOÃO, ANDA CÁ VER ISTO PÁ, Há UM GAJO CHAMADO GLADÍOLO!”.
Para quê procurar vida extra-terrestre quando temos inteligência deste nível tão perto de nós?

20 comentários:

Trilby disse...

Diana

Nome de uma deusa da mitologia, revela uma pessoa autoritária e caprichosa, mas que obtém o que deseja principalmente por se mostrar organizada, prática e muito objectiva. Em geral consegue aliar a busca do sucesso a um bom relacionamento com as pessoas que a rodeiam. E no amor encontra facilmente um bom parceiro e constitui um lar estável.

:)

O Livreiro disse...

O Livreiro

Nome indicativo da profissão exercida, indica baixo nível profissional e financeiro (e, inclusive, alguma propensão para o deboche). Tem tendência a ter filhas, sendo, na maior parte dos casos, incapaz de gerar vida masculina (para isso é preciso ser muito homem).
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É o chamado efeito de Forer, ou, para os leigos a tendência para encontrar semelhanças e coincidências em descrições vagas e generalistas que podem ser aplicadas a várias pessoas.
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Isto é um verdadeiro serviço público, meus amigos...

Trilby disse...

Krall é que não encontrei...

O Livreiro disse...

Sr. Santo, Sr. Santo, Diana de Diana Krall. Acho (não tenho a certeza, mas vou pedir às minhas fontes para confirmar) que a Diana Krall não lê este blog.

Trilby disse...

Claro que era uma brincadeira sobre o nome da Diana Krall, sr. Santo. Eu quando faço convites ninguém fica na dúvida.

Anónimo disse...

É pena...:)
preciso de companhia para a minha viagem ao Sul de França...

Anónimo disse...

Dá-me a sensação que o sr rickybond7/osanto/ricardogeraldes/mais algum que me escapa está tremendamente necessitado de estar com um ser feminino.. Porque não cria um blog para o efeito?

O Livreiro disse...

Este é, provavelmente, o melhor comment que já li no meu blog. Os meus mais sinceros parabéns.
Ah, já agora, ele já tem um blog, ali do lado direito, procurem que vão encontrar. O rapaz até tem jeito, apenas é incompreendido

Anónimo disse...

Retomando o tema de diana Krall venho anunciar a boa-nova que um colibri levou o cd para longe, pelo menos até ao dia 7 de Agosto... Se estiver atento à discografia do nosso amigo represas compreenderá...

O Livreiro disse...

Eu acho que toda a gente concordará comigo quando digo que melhor do que ir o cd é mesmo ir ela embora. Isso sim, é música para os meus ouvidos. Esse colibri da livraria, essa verdadeira Shakira do atendimento ao público precisa de férias. Eternas.

Anónimo disse...

Voces devem pensar que eu não vejo o blog... ao menos tenham respeito por mim. Criei dois filhos... sou uma colibri, colibri... eu sei que sou.

Anónimo disse...

Mama-me o Pau sua ranhosa... Estas é a precisar que te enfiem um pau infectado nesse rabo de colibri... sem penas.
Penas que não sei que gostas de enfiar o cd do represas nessa teia de aranha??? queres um vibrador, ou um senhor de raça negra? Da forma como tens essa cabecinha, acho que te ia fazer bem leite vitaminado vindo directamente do meu pénis erecto.

Anónimo disse...

Deves pensar que mandas em mim... Sou livre, Livre como um colibri.
Esta foi a GOTA de água, vou pegar na mama-la e vou embora...

Anónimo disse...

Que Merdaa é essa a gosar com a minha mãe?
a minha mana espreitou isto e nao gramou, ve la se gostavas que dissesem isso da tua mae, tens mae nao tens?
Martim

Sr. Jurista disse...

oh martim, tem lá calma que a vida sao dois dias...e as pessoas tem de ter cuidado com o que fazem em sitios publicos, estamos sempre a ser vigiados pelo "livreiro",lol

O Livreiro disse...

O apelo à calma faz todo o sentido. Especialmente para algumas pessoas.Vamos lá a postar, mas com cuidadinho... Estou seriamente a pensar em retirar os comments. Ou pelo menos passar a moderá-los.

O Livreiro disse...

Barbita já tenho, estou de férias. E denota já algumas parecenças com a barba do supracitado Markl: é esparsa e apresenta falhas em algumas zonas. Essa é a única parecença (embora rebuscada) física entre mim e o Shôr Markl. E, acho que ele próprio concordaria comigo em que isso é uma coisa boa.

Sr. Jurista disse...

será que houvi falar de sexo?

Anónimo disse...

Após algum tempo sem poder ver o blog deparo-me agora com um colibri a dizer que vai mama-la, um Martim a dizer para não gozarem com a mãe e duas lésbicas na loja. Como diria um amigo mexicano: AI CARAMBA!

O Livreiro disse...

É, isto parece quase o Você na TV. Quase...