terça-feira, março 21, 2006

Olho Mirolho

Este dia do Pai que passou foi demais. E não foi só pela excelente prenda que a minha filha me deu. Tem bom gosto a criança, reconhece boa literatura quando a vê. Infelizmente não passei o dia todo com ela como queria. Tive que vir trabalhar. E acho que nada me podia preparar para esse belo dia.
Primeiro, e antes de mais nada, devo agradecer à Coca-Cola. Eu gosto de Coca-Cola. Aliás, sou viciado. Mas, porem 6 ou 7 jovens de flores na mão, a oferecerem flores aos Pais e depois a baterem palmas estridentemente já é passar dos limites. Abordavam o possível pai. Davam-lhe uma flor. Batiam palmas. Pai. Flor. Palmas. Devo ser sincero, se oferecessem Coca-Cola, tinha lá ido. Várias vezes. Mas, flores? Não. Aquilo era mesmo irritante. Só sei que às tantas, o número de pessoas a bater palmas ia diminuído. 7. 6. 5 e por aí fora, até ficar só um. De certeza que foram perdendo unidades à medida que iam incomodando as pessoas com aquelas palmas irritantes.
Para tentar me abstrair das palmas fui arrumar a loja. Mal pego no primeiro monte de livros reparo numa fita cor-de-rosa, daquelas de usar ao pescoço com as chaves. Não lhe toquei, continuei a arrumar. Passado mais de meia hora ela continuava imóvel no mesmo local. E olhem que o local não era agradável, por isso comecei a desconfiar. Perguntei à minha colega se ela tinha visto alguém deixar ali aquela fita, e antes sequer dela responder surge a voz de uma cliente que se encontrava de costas para nós: “SECALHAR DEIXARAM ISSO AÍ PARA VER SER ARRUMAM A LOJA!” num tom altamente agressivo. Até me assustei. Secalhar era para ter piada. Não percebi. Claro que a senhora foi presenteada com um belo olhar redutor da parte dos funcionários da loja. Somos um público difícil, devo admitir.
Por falar em olhar, estes clientes do Dia do Pai são levados da breca. Que bela pandilha que por cá passou. Uma cliente queria oferecer ao pai um livro qualquer de Recursos Humanos. Lá me disse o título e lá fui eu à procura. Digamos que era mais fácil o Marlin encontrar o Nemo do que eu encontrar o livro. A cliente reparou que eu estava com algumas dificuldades em encontrar o dito livro e deslocou-se até à secção onde me encontrava. Chegada ao pé de mim, lança a seguinte pérola: “Secalhar é melhor ajudá-lo. Sim, porque dois olhos são melhores que um! Ah ah ah ah!”. Bem que a minha mulher me disse para não usar a pala no trabalho. 2 olhos? 2+2=2? Hmmmm… Secalhar tinha um olho de vidro e não reparei. Não sei. Prefiro não aprofundar esta questão, há clientes que pura e simplesmente me assustam.
Muito gostam os clientes de arranjar sinónimos para tentar dar a volta à situação. Veja-se uma cliente que, ao encontrar um exemplar do livro que desejava, achou que este não estava em condições. Então, com todo o direito, perguntou: “Desculpe, é o único?”. Respondi que sim. E o cliente: “Não tem outro?” Não, respondi eu. Ser o único ou não ter outro são coisas completamente diferentes. Tal como os amigos dela. Levou dois livros e pediu para embrulhar. Depois de serem embrulhados e quando estavam prestes a ser remetidos para o respectivo saco, a senhora intervém: “Dê-me outro saco! É que os livros são para pessoas completamente diferentes!”. Isto contrasta um bocado com os clientes que habitualmente dizem: “Ah, ponha no mesmo saco que é para dois amigos meus. É que eles são parecidos, aliás, partilham o mesmo tronco e uma perna. São um festim para os olhos.”
E porque é que raio uma cliente, estando entre o balcão e uma mesa com livros, para me deixar passar encolhe as costas e estica o rabo? Tudo bem, ela tinha uma mala às costas, o que podia atrapalhar a minha passagem. Mas ela devia ver o rabo dela ao espelho e ajustar as prioridades no que toca a encolher-se para ceder a passagem. Mais um bocado e eu não estava aqui para contar a história.
Mas é sempre bom ver pais e filhos a passear, felizes. Especialmente quando tenho que ficar aqui o dia todo e a minha filha em casa a queixar-se disso. E há famílias engraçadas. Um pai, com o filho, que não devia ter mais de ano e meio, às cavalitas. O pai, todo orgulhoso, mostrava ao mundo a t-shirt dos Ramones do filho. E este chorava, chorava como se não houvesse amanhã. Eu ainda pensei que o pai fosse entoar o Blitzkrieg Pop para o acalmar, mas não. E eis que, finalmente, a mãe entrega à criança um livro do Noddy, para deleite desta. A choradeira parou. A mãe fez o habitual ar vitorioso que fazem as mães e o pai reduziu-se à sua insignificância. O Noddy venceu mais uma vez. Maldito sejas, Noddy…

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro amigo, palhaço, companheiro...
O seu blog é uma autentica voz, ao senhor Veiga. Os lapsos, erros e estupidez dos seus clientes só se comparam ao dos arbitros da liga Betadine... E ao Afonso claro.
Ainda me lembro do filme do KarateKid, foi muito bom...mas maldito sejas mantorras, tu saltas muito melhor, mas ainda não eras conhecido. Ou porque não falar do senhor arbitro auxiliar que consegue ver uma bola sair, eu diria com uma visão ao nivel do Super Homem... As más linguas dizem que provavelmente tambem vai cair do cavalo.
Por falar em cavalo, remente-nos para o famoso ( eu diria guarda redes, mas não quero ofender a classe) Moreto...
Assim me despeço desejando que o Benfica ganhe a liga dos campeões... no ano de 2516 e quando a liga dos campeões for para os terceiro divisionarios.
Um Abraço

Pintinho da Costa, mas sem gripe.