sábado, abril 29, 2006

Não Explicam!

Os editores deviam ter mais cuidado com a forma como colocam o número da edição na capa. Existe um grupo de pessoas que teima em arranjar confusões com o número da edição. Há sempre aqueles que querem a 1ª edição dos livros que compram, e ficam muito desiludidos quando não a conseguem, tentando a todo o custo arranjar algum exemplar da mesma. Alguns chegam ao cúmulo de nem sequer comprar quando a edição não é a primeira. Mas estes nem sequer são os piores, há aí uma pandilha que não é para brincadeiras. Chega uma cliente ao balcão com o livro de São Cipriano na mão. Aponta para o 3 que indicava o número de edição e diz: "OH SENHOR, TEM AÍ O 1 E o 2? É QUE NUM VOU TAR A LER O TERCEIRO SEM LER O SEGUNDO E O PRIMEIRO NÉ?! ASSIM NUM PERCEBO NADA DA HISTÓRIA!". Explicar que aquele número representa apenas o número de edição e não o volume do livro torna-se complicado. E claro, depois temos o clássico que, trazendo um livro de aprender Inglês em 30 dias diz: "EU COMPREI AQUI A SEGUNDA EDIÇÂO E AGORA A TERCEIRA E OS EXERCICIOS SÃO TODOS IGUAIS, TODOS IGUAIS! PARA ISSO NUM COMPRAVA!". E lá vem a explicação outra vez, e acho que a maior parte das vezes eles não percebem.
Eu é que não percebo o que é que leva uma senhora a pegar na lista do telefone, pensar que lhe está a apetecer chatear alguém e escolhe o nosso número. E liga. "Boa tarde, fala da Livraria? Podia-me dizer porque é que a vossa loja de Faro não atende?". Obviamente que não faço a mínima ideia. "Mas não sabe ou não quer saber?" E aqui começa o rol de perguntas em que, seja qual for a resposta que dê, a senhora nunca fica satisfeita, apresentando a sua resposta para a sua própria pergunta. Eu digo que deve ser devido ao movimento, ela acha que "Deve ser porque estão com falta de gente". E continua:"Tem livros do Camilo Cela? Não? Porque é que não tem livros de um autor que ganhou o Nobel?" Dou a minha resposta, e ela contra ataca com "Não, não é isso, é porque ele não é vendável, com certeza". E termina com um brilhante "Bom, vou ligar para outras lojas para saber se têm os livros.." E fica em silêncio, eu também. "Então, não ouviu? Não diz nada?" Bons telefonemas? Que é que é suposto eu dizer a sguir a alguém dizer "ligar para mais lojas?". Finalmente despediu-se: "Uma Boa Tarde sim?" Claro minha senhora, uma boa tarde e uma boa vida. De preferência longe de nós.
Estava eu descansadamente a tentar fechar a caixa do dia anterior quando surge um problema que não sabia como se resolver. Não fazia mesmo ideia onde é que se inseria o valor relativamente a um cheque oferta. Não queria que nenhum superior soubesse da minha ignorancia, então tentei ligar aos meus colegas. Não foram grande ajuda, verdade seja dita. Ou não atendiam ou não sabiam. Tentei então ligar, em desespero, ao nosso saudoso Mestre Livreiro, esse mito do meio-fundo movido a tabaco, mas também não atendia. Bem, pensei em deixar estar, quando chegasse alguém à tarde o assunto certamente ficaria resolvido. Mas, eis senão quando, o telefone toc. Atendo, era da contabilidade E o que se passou a seguir foi basicamente isto:
Contabilista - Muito bom dia, falta-nos aqui uma caixa.
Livreiro - Ah, exacto, é que eu estava mesmo aqui a er... acabar.
Contabilista - Ok então, está explicado.
Livreiro - Já agora, só aqui entre nós, como é que se insere o valor do cheque oferta?
Contabilista - Pois, isso agora não sei, não estou familiarizada com os vossos quadros.. Dê-me só um segundo que eu pergunto aqui...
(Som de pousar o telefone)
Contabilista (Aos berros) - Está aqui o Livreiro da Loja X ao telefone, ele não sabe fazer uma coisa, alguém sabe explicar? Sim, o Livreiro da Loja X não consegue fechar a caixa, alguém pode ajudar?
(Som de alguém a pegar no telefone)
Contabilista - Ninguém sabe... Vou passar à entidade máxima da contabilidade, o nosso director.
(Música de elevador)
(Mais música)
Director - Bom dia, então o sr. Livreiro não sabe fazer isto?
Livreiro - Pois, é que tenho aqui uma dúvida sobre qual será a categoria certa para a despesa.
Director - Então, é só inserir tal e qual está.
Livreiro - Er.. Ah, ok, obrigado então... Pronto era só isso.
Apeteceu-me terminar a frase com "Agora se me der licença vou só ali atirar-me daquele penhasco". Ou seja, eu não queria que ninguém soubesse que eu desconhecia como se procedia naquela situação e o que aconteceu foi que espalharam isso por toda a contabilidade. Muito bom. Façam uns mails, mandem uns forwards, colem uns cartazes, façam uns blogs. Espalhem ao mundo que eu não sabia fazer aquilo. Agora já sei, foi remédio santo...

terça-feira, abril 25, 2006

Poliglotas

A noite de Sábado foi pródiga em imagens de terror, acho que nunca me tinha assustado tanto com algo que passasse na televisão. E isto só com os festejos da conquista do campeonato pelo FC Porto. Tive de impedir a minha avó de ver, não fosse ela ter algum ataque cardíaco. Claro que também apreciei muito as partes de comédia dos festejos, especialmente aquela senhora que dizia “A SEGUIR BEM O PENTA!”. Alguém ensine a senhora a contar, depois do 1 não vem o 5. Mas pronto, foram campeões, mereceram.
Na quinta passada o Baixas foi protagonista de um momento que tenho alguma dificuldade em classificar. Caricato é um bom termo, mas acho que não faz justiça ao que se passou. Estávamos no Back Office, com o gerente a trabalhar descansadamente no seu posto, e estávamos no nosso habitual debate das quintas-feiras sobre o presente, passado e futuro dos videojogos. Estava tudo a correr bem, até o Baixas ter uma saída brilhante. Foi qualquer coisa assim:
Livreiro – Pois, para mim o melhor jogo online para qualquer consola portátil é, sem dúvida, o Mário Kart DS
Baixas – Mário Kart?
Livreiro – Sim, Mário Kart, aquele que também há para Gamecube e Gameboy Advance.
Baixas – Ah, já sei, aquele que jogávamos aqui?
(BAIXAS OLHA PARA MIM E LEVA AS MÃOS À CABEÇA)
(SILÊNCIO)
(SILÊNCIO)
(SILÊNCIO)
Baixas – Aquele que tem uns carros todos infantis?
(RISOS INTERMINÁVEIS E A ROÇAR O HISTÉRICO DOS DOIS)
Livreiro – Baixas, tu és hilariante!
(MAIS RISOS, ACOMPANHADOS DE LAGRIMAS)
(NOVAMENTE SILÊNCIO)
Livreiro – Pois, é o melhor
Baixas – É capaz.
Portanto o rapaz, sentado ao lado do seu gerente, diz que aquele era o jogo que nós jogávamos no local de trabalho. É só inteligência. Já agora dizia que também dávamos uns toques no Pro Evolution 5 e umas voltinhas no F1 2005 para PSP. Enfim, é dos medicamentos, ninguém o leva a mal.
Ontem de manhã surgiu uma cliente no balcão, que, sem perder tempo, disse, confiantemente: "Queria um livro do Dostoievsky, se faz favor." Boa, pensei eu, consegue pronunciar Dostoievsky melhor do que o Gulbenkian, que diz qualquer coisa como Dostovietsky ou Dostoetvisky. Ainda não tinha acabado de apreciar a sua boa dicção quando ela continua: "O nome do livro é Os Irmãos Karamaninikov". Estragou tudo, acertou no Dostoievsky mas falhou redondamente no Karamazov. Secalhar era uma boa parceira para o Gulbenkian, já os imagino a correr pelos campos, ela de saiote, ele de sandálias e meia branca, a proferirem nomes Russos da pior forma possível. Ou isso, ou a falarem espanhol. Porque o Gulbenkian domina o Espanhol. Na quarta passada surgiram duas senhoras espanholas que queriam saber se tínhamos o "escudo" do nome da livraria, porque o nome era igual ao seu último nome. Nós não temos nenhum brasão da loja ou da família que deu origem ao nome da livraria, mas, antes sequer de eu começar a tentar explicar isso à senhora, o Gulbenkian intervém, lá de trás, destemido. "O ESCUDO PORTUGUES?" ISSO NÃO TEMOS, ESTÀ ESGOTADO!" e a senhora a tentar explicar que queria ver o brasão, e ele a continuar: "POIS, POIS, A HISTORIA DO ESCUDO PORTUGUÊS... NÃO, NÃO HÁ! ISSO ESTÁ ESGOTADO!"
Por falar em Espanhol, ainda esta manhã surgiu um cliente que queria: "Um livro que saiu em Espanha, em espanhol, de um autor que é espanhol mas que mora em Madrid, diz lhe alguma coisa? Não sei se é um bocado vago... Ah, eu li isto em inglês." Portanto, um autor que é espanhol MAS que mora em Madrid? Morar em Madrid afecta a sua nacionalidade? Não sei, isto é uma frase deveras interessante. E não sabe se é vago? Obviamente que não. Não diz título, autor, editor. Vago era se entrasse na loja e tentasse comunicar apenas através de odores. E eu estivesse constipado.

terça-feira, abril 18, 2006

Portanto, A mais I igual a AI?

Fui trabalhar na sexta-feira passada. O caminho para o trabalho foi normal (condutores loucos, cabras a atravessar a estrada, enfim, o costume) mas, quando dobro a esquina para ir abrir a porta da loja, sou logo presenteado com uma senhora a dizer ao seu filho, que chorava desalmadamente: “ENTÂO JOAQUIM MANUEL O QUE É QUE O ANORMAL DO TEU PAI TE FEZ? DOU LHE JÁ UMA CARGA DE PORRADA! PARA DE CHORAR TU TAMBÉM!”. Pensei em parar e reflectir na estranheza da situação, mas depois lembrei-me de que era feriado, estava tudo explicado… Claro que, mesmo que tivesse com algum tipo de dúvidas, o facto da primeira cliente do dia ter me ido perguntar a localização de um livro porque, segundo ela, “SOU PREGUIÇOSA, NÂO SOU CAPAZ DE PROCURAR NADA”, veio logo reforçar a minha tese, era mesmo feriado.
Por muito que tentemos comunicar com certos clientes, fica no ar aquela sensação de que nós não nos expressamos no mesmo idioma. Não são raras as vezes em que repetimos uma frase vezes sem conta e o cliente, como se não fosse nada com ele, ignora completamente o que dizemos. Vejamos o seguinte caso: uma senhora chega ao balcão, calmamente, e pergunta se temos um qualquer livro. Consulto a base de dados, verifico que não temos o livro, e vejo as lojas em que ele existe. Passo então a comunicar à senhora que o livro apenas se encontra disponível no Chiado e no Vasco da Gama. Ora bem, quando eu esperava o lógico “pode encomendar?” ou o “pode reservar lá?”, surge um inesperado: “E em Cascais, há?”. O facto de eu ter dito que SÓ havia no Chiado e no Vasco da Gama não interessa, posso estar a omitir algo, estes livreiros não são de confiança. Algo falhou na comunicação, imagino o cliente a olhar para mim e a pensar: “Ele está à minha frente, e está a mexer a boca, logo deve estar a falar, mas… Estranho… Não ouço qualquer som… É melhor perguntar se há em Cascais, não vá ele enganar-me…”
Depois há também o hábito dos clientes estarem enganados relativamente ao nome de um livro ou de um autor (ou de ambos), e jurarem a pés juntos que tem razão.Uma senhora idosa aproximou-se do balcão e, sem perder tempo, perguntou: “Tem aí mais livros da Amanda Cunha?”. Eu fiquei naturalmente apreensivo, que senhora tão decidida era aquela, nunca tinha ouvido falar dessa autora. Bom, lá fui eu à base de dados e, obviamente, não surgiu nada. Enquanto pesquisava a senhora ia falando: “Gosto muito da Amanda Cunha. Comprei um livro dela e já li todo e gostei muito, gosto muito. Não conhecia a garota, mas agora gosto muito, esta Amanda Cunha”. Disse-lhe, com todo o cuidado, que não surgia nenhum livro dessa autora da base de dados e que, possivelmente, assim numa hipótese remota tipo Sporting ser campeão, que a senhora devia estar a equivocar-se no nome da autora. Eu posso quase jurar que lhe saíram dois chifres da cabeça e que lhe surgiu uma cauda pontiaguda por baixo da saia. O cheiro a enxofre já lá estava. “NÃO TEM?! COMO É QUE NÃO TEM?! ISSO É IMPOSSÍVEL! EU LEVEI O LIVRO DELA! E olhe, gostei muito… MAS TEM QUE TER! NÃO ME ENGANEI! É AMANDA CUNHA!”. Tentei mostrar lhe o monitor para ela ver como não surgia nada, mas ela não quis olhar porque tinha medo que lhe sugasse a alma. Pensei em começar de novo, perguntei-lhe o nome do livro. Se a senhora se recordasse do nome do livro, o nome da autora iria surgir e aí ficava tudo esclarecido. “NÃO ME LEMBRO DO NOME DO LIVRO! SÓ SEI QUE É DA AMANDA CUNHA!”. Nada feito. A senhora insistiu até eu lhe arranjar uma solução adequada. Disse-lhe para voltar à loja no dia seguinte, com o livro que comprou e que aí nós tirávamos todas as dúvidas. “ENTÃO EU VOLTO E O SENHOR VAI VER QUE É A AMANDA CUNHA!” Claro que eu não referi, meramente por lapso, o facto de no dia seguinte estar de folga. Mas isso é irrelevante para o caso. Conclusão, o que a senhora procurava mesmo era Amanda Quick. Quick, Cunha, é normal, são dois nomes tipicamente portugueses. Quantos merceeiros ou talhantes não há por aí com esse nome? “OH SHOR QUICK, DÉ ME AÍ TRÊS COSTELETAS DE BORREGO FACHAVOR!”. Não levo a senhora a mal.
Depois há sempre aquelas clientes que vivem no seu mundo superior, tendo só algum contacto com o resto da humanidade quando vão comprar livros e pensos higiénicos. Bom, sendo que a parte dos livros me toca a mim (vender pensos seria, admito, interessante, acho que há terreno para explorar nesse mercado, para quando os pensos com música?) lá tive de atender uma dessas clientes. Queria o livro “NEW POOL DESIGN” para a filha. Depois de me dizer o nome do livro, perguntou arrogantemente: “Mas sabe escrever?”. Tocou num ponto sensível. Esta pergunta, para quem tem a quarta classe tirada à noite (e com cábulas) dói muito. Lá tive de explicar à senhora que não sabia e que, aliás, nenhum dos meus colegas sabe. Ler e escrever não são factores preferenciais para o trabalho numa livraria. Um ou dois de nós ainda arranham a leitura (a mim, custa me ler palavras com LH e NH, mas ainda me safo), mas escrever? Ninguém sabe. Estas pessoas, que vão para as livrarias a pensar que sabemos ler e escrever… Como é que é possível viver nessa ilusão? Os meus mais sinceros pêsames.

domingo, abril 02, 2006

A Busca da Verdade

Ia eu começar a escrever quando surge algo no horizonte que me distrai complemante. Amigos, eu já vi muita coisa. Muita mesmo. São demasiadas horas a espreitar para fora deste aquário sem água a que chamam loja. Mas, ver uma rapariga a passear dentro da loja, enquanto vai lendo alguns livros, com um bocado de cartão colado às costas e que se estende uns valentes 75cm acima da sua cabeça, com publicidade à série "Desesperate Housewives" é algo digno de ser visto. Aqui o meu colega Gulbenkian, este verdadeiro raio de luz ambulante com a sua camisola amarela, não queria acreditar nos seus olhos. Pobre rapariga, parece saída de uma banda desenhada. Só que esqueceram-se de lhe tirar os balões das falas. Devem pagar bem, é tudo o que digo.
Não há nada como clientes enraivecidos. E se há coisa que os deixa fulos é quando lhes passam à frente na fila para pagar. É compreensível. Se por acaso atendemos alguém que se esgueirou sub-repticiamente para a frente da fila, começa logo uma discussão. "OH FAXAVOR EU TAVA PRIMEIRO, ESTE ... "SENHOR" PASSOU ME Á FRENTE!" logo seguido de um "DESCULPE! EU ESTAVA PRIMEIRO, NÃO TENHO CULPA QUE TIVESSE AÍ A DORMIR!". As discussões atingem por vezes níveis bastante perigosos. E eu aqui, atrás do balcão, a presenciar tudo calmamente. Até à semana passada. Atendi uma cliente, e surgiu logo um envervadíssimo "EU TAVA PRIMEIRO!" da senhora do lado. Surgiu a resposta e a contra resposta. E eu já a pensar em ir buscar as pipocas para assistir à discussão. Mas eis senão quando as senhoras, em vez de se degladiarem até à morte, se unem contra mim. "Peço imensa desculpa, mas foi aqui este "SENHOR" que me chamou para ser atendida" ao que a outra cliente respondeu "Pois, não estão com atenção, é o que dá". A outra cliente assentiu e continuou: "Realmente, é sempre a mesma coisa...". E ali ficaram, a olhar-me com desprezo, enquanto despejavam todo o seu ódio em mim.
Na semana passada, um cliente comprou um livro da colecção Para Totós. Até aqui tudo bem, não fosse o facto do dito cliente ter chegado a casa e ter reparado que afinal não era aquele que ele queria. Então o que é que ele faz? Liga para a loja. "Ah, bom dia. Eu comprei aí um livro chamado Internet Para Totós, mas o que eu queria era Informática Para Totós." Tudo parecia correr bem, até ele dizer "Eu fui atendido por um rapaz simpático, com uma coisa no pescoço." Suponho que ele estivesse a falar do meu fiel identificador. Que todos usamos. Quer dizer, todos menos a Feiticeira. E O Santo, porque tem o pescoço sensível. Acho que era disso que ele estava a falar. Ou disso ou da minha cabeça. Acho que é normal apelidar, tanto ao identificador como à minha cabeça, de coisa. Claro que a parte do "simpático" foi a parte mais chocante para os meus colegas.
Estava eu no balcão a tentar trabalhar quando vejo um homem e uma mulher a segurarem uma caixa. Pararam junto ao balcão, sem largar a caixa e mantinham um sorriso tipo Barbie. Não se mexiam, nem sequer pestanejavam. Pensei que fossem dizer: "Take me to your leader", mas não, pediram-me licença apenas para deixar a caixa no back office, sempre com os olhos esbugalhados. Estranho, pensei eu e mandei os entrar. Lá deixaram a caixa e partiram, como se nada fosse. Quando fui ver o conteudo da caixa tudo fez sentido. Eram livros de Cientologia, a religião inventanda por L. Ron Hubbard. E quem é L. Ron Hubbard? Não sei, não interessa, mas aqui diz que vendeu 120 milhões de livros. Ena. Em Hollywood está na moda, e isso não é dizer pouco. Foi aliás, a razão pelo qual Isac Hayes (o Chef) abandonou o Southpark, o que só por si constitui motivo suficiente para não gostar desta religião.
Por falar em religião, o livro da Alexandra Solnado traz à loja personagens novas. Na segunda-feira passada estava ainda a tentar acordar quando uma senhora se aproximou do balcão e perguntou se tínhamos a Limpeza Espiritual. Como é que poderíamos ter? É um verdadeiro bestseller. A senhora ficou bastante desiludida. Então começou a ver outros livros, e acompanhava a leitura de cada livro com a pergunta: "Também é de limpeza espiritual?" E a cada livro, a mesma pergunta. Chegou inclusivamente a pegar num livro do mesmo formato do livro Limpeza Espiritual e perguntou se era de limpeza espiritual. Quando confrontada com esse facto, perguntou: "Então é sobre quê?". A minha colega pegou no livro, olhou para a capa e viu o título Como Contactar o Seu Espirito Guia. E disse: "Este é para contactar o seu espírito guia". Pelo título ninguém ia lá. A senhora respondeu prontamente: "Ah, então é isso! Mas não tem limpeza espiritual?". Depois virou-se para os livros da Louise Hay. Mostrei-lhe todos os que tínhamos, mas ela já tinha tudo. Queria um dela que falasse de limpeza espiritual. Não temos. Então começou a tirar livros ao calhas da prateleira e a perguntar: "Também é da Louise Hay? Também é dela? E este?" Calculo que ler não fosse o forte dela.