domingo, maio 14, 2006

Montagem de Expositores Para Totós

Têm sido uns dias atribulados, estes que vivemos. Quinta-feira de manhã, por entre uma enchente de pessoas logo às 11 horas, conseguimos ver uma rapariga desmaiar mesmo à frente da loja. Pobre criatura, trabalha num stand da Philips alusivo ao mundial, onde, os felizardos consumidores, podem habilitar-se a ganhar umas televisões e outras coisas que tais. Tudo bem que eles dizem que os prémios são de cair para o lado, mas a rapariga não devia levar isso tão à letra. Isto dos prémios tem que se lhe diga. Não é raro chegarem aqui pessoas com cupões para ganharem qualquer coisa. Nós tentamos explicar que não é aqui que se entregam os cupões, mas as pessoas não desistem. Quando finalmente param de reclamar para nos ouvir, nós explicamos que é “aqui à frente” que se entregam os cupões. As pessoas olham, dão uns passos para o lado para ver melhor e perguntam: “Aqui à frente? Onde?”. Basicamente é no stand no meio do corredor, a 2 metros da porta, que tem mais de 10 metros de comprimento, com cabines ENCARNADAS, em cima de um tapete VERDE, que dizem MUNDIAL DE PREMIOS em letras garrafais. Eles até têm uma baliza com um televisor de plasma lá dentro, por amor de Deus! Como é que é possível não ver?
Estava eu no balcão com o grande Gulbenkian, esse grande filantropo, figura de proa da missão Crescer em Príncipe (que, pasme-se, até já figurou numa edição do Expresso), quando surge uma senhora, com um ar bastante confuso. “Vou-lhe pedir uma coisa difícil…” disse-nos. Eu expliquei-lhe que se ela queria que o Gulbenkian agisse como um homem, ia ser difícil, mas de resto, podíamos ver o que é que podíamos fazer para ajudar. Queria um livro que não tínhamos, que surpresa.
Devo admitir, em primeira-mão, que sou um homem mudado. Não há que negar, sou um homem mudado. E tudo devido a algo que presenciei, durante hora e meia. Noddy Live, era o nome do espectáculo… Pois é amiguinhos, fui ao Noddy Live e saí de lá um homem mudado. Foi a loucura. Deviam ter visto os miúdos, no espaço entre o palco e a primeira plateia, a lutarem, saltarem, rebolarem, correrem, e espancarem-se quase até à morte com uns paus cheios de luz que eles por lá vendiam, para desespero dos pais. Ainda pensei em começar um mosh, mas ninguém me ligou nenhuma. Não brinquem, aquelas músicas do Noddy roçam o heavy metal. Posso quase jurar que vi o Sonso a tentar fazer stage diving, e um puto a saltar do primeiro balcão para a plateia. A seguir ao espectáculo, nos corredores do Pavilhão Atlântico, ocorriam as habituais conversas sobre o desempenho dos artistas. “Ah e tal, o Noddy já esteve em melhor forma, tem chegado atrasado aos treinos…”. Mas o mais curioso foi uma conversa entre dois petizes. Ao olharem para um poster alusivo ao espectáculo, disseram o seguinte:
- A minha tia faz me lembrar a Ursa Teresa
- Que giro, chama-se Teresa?
- Não, é uma ursa!
Sempre na pândega, estas crianças…
Temos tido várias campanhas especiais nas últimas semanas. A mais recente prende-se com a colecção “Para Totós” da Porto Editora. Para o efeito, além de termos que por os livros dessa colecção na montra, recebemos uma expositor com mais de 1,50m de altura, com 3 prateleiras com uma divisão central para expormos os livros. É um expositor vistoso, amarelo, ocupa muito espaço e basicamente desempenha bem a sua função. Que é incomodar. E o maior problema nem é o expositor em si, mas sim a montagem. O expositor veio completamente desmontado, dentro de um caixote. Este caixote deveria ter escrito num dos lados “Como Entreter Três Livreiros Durante Cerca de Uma Hora”. Porque foi isso que aconteceu. Três Livreiros, um expositor, mais de uma hora. O Expositor deveria vir acompanhado do livro “Montagem de Expositores Para Totós”. Devo-vos dizer, que, da primeira vez que conseguimos montar e juntar todas as peças, fizemos um Eusébio de cartão amarelo. É verídico. Isto de dobrar e encaixar cartão não é, definitivamente, connosco. Mas, depois de muita luta, lá conseguimos erguer o expositor e ficámos a olhar para ele, orgulhosos, durante alguns segundos. Depois do orgulho veio a vergonhoa, porque não era possível termos demorado uma hora a montar aquilo. Depois disso, veio a aceitação. Tudo bem, demorámos, mas ficou bem montado. E, por fim, veio o esquecimento. Menos para o Gulbenkian. Ele passou da aceitação para o amor. Consta que quando a campanha acabar ele quer levar o expositor para casa. Que sejam felizes...

5 comentários:

Anónimo disse...

A vida é estranha, muito estranha, muito estranha mesmo. Enfim..............

Anónimo disse...

Palavras sábias.... de um santo...

Sr. Jurista disse...

este tá muito bom, isto historias recambolescas, só do livreiro!
um abraço do Sr. Jurista

wolf354 disse...

Dos teus textos foi o primeiro que me fez rir, mas mesmo rir com ar de parvo a olhar para um monitor.
Para próxima vai ver o Avô Cantigas! (se conseguires bilhete...)

Trilby disse...

Todo esse trabalho para montar o expositor e nem desmaiaram! Não é motivo de vergonha, é motivo de orgulho!