quinta-feira, maio 04, 2006

Eu... Eu é Que Sou o Inspector do Trabalho!

O José Pedro Gomes, no seu livro “O Pais dos Jeitosos”, escreve sobre uma carta, e o tempo que esta demoraria a chegar de Lisboa a Cascais. Sem querer tirar a piada do texto, o facto de um livro demorar uma semana a fazer o mesmo trajecto (ou até mesmo dentro de Lisboa, ou dentro de Cascais) tem muito mais piada. Geralmente quando dizemos que um livro demora uma semana a vir de Lisboa, a reacção dos clientes tende a cair na indignação: “O QUÊ? SÓ PODE ESTAR A BRINCAR! É RIDICULO!”. Mas, hoje, um cliente, quando confrontado com o facto de que o seu livro demoraria uma semana a chegar, pura e simplesmente desatou a rir. Ia rindo, enquanto tentava pedir desculpa por rir, se agarrava à barriga e limpava as lágrimas dos olhos. Toma lá, Zé Pedro Gomes, aposto que os teus espectadores não choram a rir.
Depois temos a nossa colega Feiticeira. Só para terem uma ideia, uma cliente chega junto dela com um livro e pergunta: “Está cá há muito tempo?” e a resposta dela é: “TOU CÁ DESDE AS 10 HORAS JÁ NÂO POSSO COM ISTO; ESTA CHOLDRA, SÓ MULHERES-A-DIAS E MERCEEIROS!”. A cliente assustou-se, e disse: “Eu só queria saber se este livro era recente ou não…”. E depois, a meio da tarde vê uma pessoa lá fora a olhar para ela. Olham uma para a outra. Anda para trás e para a frente ao mesmo tempo. Finalmente dirigem-se até à entrada da porta. Chegaram lá, ficaram a olhar mais um bocado. Encetam uma conversa, perguntam o nome uma da outra, locais de trabalho, locais de lazer. Nada, não encontram nada em comum, não havia uma coincidência. Desiludidas, parte cada uma para seu lado. Que conversa tão eloquente e interessante. Que momento bonito. Por momentos temi que fossem irmãs separadas à nascença ou coisa que o valha.
E depois são os Trovante, o Represas, o Rui Veloso e a Mafalda Veiga. Sempre que pode a Feiticeira mete estes artistas a tocar. No outro dia, à porta do hospital, presenciei uma conversa que considero bastante elucidativa:
- A música da Mafalda Veiga leva-me às lágrimas.
- É muito comovente não é?
- Não, faz me doer os ouvidos, é tramada… …
- Ah… Mas então diga-me, vizinha, porque é que veio ao hospital?
- Tenho tido um corrimento esverdeado…
- Ah… Pois.. É chato… Eu aqui tou, estas varizes… Sempre aproveito e ouço um bocadinho de Rui Veloso pelo caminho.
- RUI VELOSO? Comparado com o que tenho não é nada, os meus pêsames…
Não me levem a mal, os artistas que mencionei não são maus. Pronto, a Mafalda Veiga secalhar até é… Mas, mesmo assim, o que é demais enjoa.
Estava eu, descansado, a tratar de umas facturas no Back Office quando surge uma criança, com cerca de 6 anos, com os olhos completamente esbugalhados. A sua mãe andava aí a ver livros, despreocupada. A criança dirigiu-se a mim e perguntou-me “O que é estás a fazer?”. Eu expliquei-lhe que estava a trabalhar e que o meu patrão devia estar a chegar, e que o segurança não deixava ninguém entrar ali, por isso era melhor ele ir lá para fora ter com a sua mãe. Ele não me ligou nenhuma. Chegou-se ao pé de mim e agarrou o meu braço, deu me um pequeno abraço e disse, pegando no meu identificador: “É o teu nome?”. Respondi afirmativamente, e voltei a insistir na história do segurança. “AGARANÇA?”, respondeu ele, admirado. Eu tentei que ele saísse, e só quando ele desviou a atenção para uma colega minha é que saiu: Andou a correr pela loja, a sair da loja com livros na mão, a correr atrás do balcão, a mexer em tudo e mais alguma coisa. Volta pela terceira vez lá dentro, e pela terceira vez eu disse-lhe a mesma coisa. Ele deixou de sorrir, abriu ainda mais os olhos, recuou e disse: “CALA-TE! NÂO MANDAS EM MIM!” E ficou a olhar para mim. Eu ri-me e disse para ele ir brincar. Então saiu, foi falar com a minha colega e correr pelo balcão, sempre sorridente e feliz. Mas, cada vez que passava à porta do Back Office dizia: “CALA-TE! NÂO MANDAS EM MIM!” Depois voltava a sorrir e fugia. Chegou a falar com uma colega, todo sorridente, e, ainda estava ela a falar, ele volta-se para trás, lança-me um olhar mortífero e diz, entre dentes: “Cala-te… Não mandas em mim…”. Tive medo.
Na sexta passada tivemos a visita de uma brigada da Inspecção Geral do Trabalho. Eram três vingadoras, de crachá aberto, parecia uma entrada tipo NYPD. Só faltou terem dito Freeze! Fizeram umas perguntas e tal, eu admiti que conhecia o Fat Tony (Toni Gorducho, para os leigos) mas que não matei o Jimmy Weasel (o Jaime Doninha). Elas não perceberam do que eu estava a falar, e pediram-me para assinar um papel. O problema é que elas é que assinaram no local onde eu devia ter assinado. Não me restou solução senão assinar no local de Inspector. Isso é que daria um belo blog…

3 comentários:

Anónimo disse...

Não pode Xer, é que não pode mesmo xer...Uma pessoa vira as costas, salvo seja, e logo este rapaz que se diz livreiro ( Cruz credo, que até me apetece dizer: pelo sinal nos daí hoje,amén)vem para aqui desabafar as suas frustações... Fat Tony e valha-me deus. Caro amigo Livreiro( Pelo Sinal nos dái hoje, amén) pegue num bom alcorão ( A Revista Sabado não tráz apenas cartas de leitores amordaçados pelo bibi) e vá até à página 77 e pode encontar uma boa explicação de como fabricar uma bomba artesanal e de fácil colocação à cintura... Aprenda e execute, e depois livreirinho telefone a dizer qualquer coisa...

O Livreiro disse...

Sei que pode ser uma desilusão para muitos, mas bombas não são o meu forte...

Anónimo disse...

Livreirinho, todos sabemos que o seu forte é gestão aplicada a teatros de guerra...