quarta-feira, julho 06, 2005

As Férias

As férias aproximam-se. Obviamente, não quero abandonar o meu posto sem deixar aqui umas palavritas. Um hábito que se vai tornando cada vez menos frequente, infelizmente. Pois é, depois de 1 ano e 2 meses de árduo trabalho vou de férias. Isto apesar de já ir no segundo contracto. Isso é secundário. Recordo-me como se fosse ontem, quando nós, os que estávamos a terminar o contracto, demonstrámos a nossa decisiva vontade em ter umas férias. “Férias são para meninas” disseram, ao que o meu colega Greenpeace levantou o braço e disse: “Então isso quer dizer que posso ir?”. Infelizmente também não foi a lado nenhum, embora haja rumores (dizem que é o Cosmos a funcionar) que, se ele não se cala com voluntariado e com o inter-rail que o metem num comboio com o Spartacus debaixo do braço. Já lhe sugeri voluntariar-se no exército, mas ele disse: “Então isso não é para homens?”. Muitas pessoas acusam-me de ser demasiado duro com ele, e que ele não é nada como eu digo. Atenção, este é o homem que suspeita ser alérgico ao seu perfume.
As férias são mais que merecidas, e as saudades não irão ser muitas, posso assegurar-vos. Vou-vos dar uns exemplos porquê:
Um homem com o seu farto bigode e fio de ouro entra de rompante na loja. Chega ao balcão e diz: “Queria um livro de férias para o 1º ciclo.” Perguntei o ano e ele disse: “Para o primeiro ciclo”. Eu perguntei se era para a primeira classe. Ele respondeu confuso: “Epá, é para os putos fazerem nas férias.” Qualquer coisa com números e letras serviria portanto. Adoro os clientes exigentes e seguros do que querem.
Depois temos o jovem que pergunta onde fica a papelaria. Eu respondo que é junto aos elevadores, cumprindo assim o meu dever cívico. Ele, perplexo, pergunta: “Então… E isso fica a quantos minutos?” Oh amigo, isso é muito simples. Ou vai pela Savana, e arrisca-se a ter de fugir dos leões famintos (perderam uma zebra para uma águia que não comia à 11 anos e um antílope para uns caçadores russos no espaço de uma semana) ou vai ali pela praia, e, mais arrastão menos arrastão não demora nada...
Depois temos mais uma vez a mania das dietas no verão. Os livros voam das prateleiras. E é sempre reconfortante ver senhoras anafadas a comerem gelado e a pedirem livros para dietas. Deviam andar com um sinal na testa a dizer: Ironia. E assim, numa tarde quente, chega uma cliente ao balcão e pede já um clássico das dietas. “Boa tarde, tem a dieta de Soto Beach?”. Ora, a dieta de South Beach já não interessa, já está fora de moda. A dieta de Soto Beach é que é o grande êxito de verão. Soto beach, como devem saber, fica ali para os lados de Chelas, assim como quem vai para os Olivais. Praia banhada por um esgoto a céu aberto, é local de culto para os banhistas mais curiosos. A dieta consiste na Patanisca, no croquete desfeito e na batata frita de pacote. Quanto mais cancerígena melhor, emagrece mais.
Á uns meses atrás debati-me com um problema que se vem alastrando e que ameaça ferir de morte a Língua de Camões: o desaparecimento da letra “i” em algumas palavras (Código Da VincE, BenzonE, etc.). Fenómeno curioso e de ocorrência comum, já se tornou um hábito dos portugueses. Mas, venho aqui confessar perante vós que a minha tese tinha falhas. O “i” não desaparece, apenas se transfere para outras palavras. Por exemplo: “Este livro custa cinco Ieuros?” ou ainda “Tem livros sobre peixes de Iágua salgada.” O português é uma língua viva. Ninguém sabe onde isto irá parar.
Depois temos a senhora com as unhas compridas demais, tipo cabeleireira de Marvila. Ao marcar o código do MB engana-se duas vezes e diz: “Desculpe, é das unhas.” Eu pensei para mim, sábio e experiente livreiro “pois, deve ser…”. E eis senão quando, ao entregar o cartão à senhora, ela dá me uma verdadeira naifada à má fila com a unhaca rosa. Parecia um Wolverine de saias, até os pelos faciais eram idênticos. Nunca gozem com uma mulher de unhas compridas.
Ainda relativo a dietas, tivemos mais uma senhora que procurava a melhor linha (ou será curva? Recta? Chicane? Parabólica?) e que tinha a convicção de que o livro que procurava a ia salvar. Entrou calmamente, dirigiu-se a mim e perguntou: “Bom dia, tem a dieta do Gordo?”. Não tínhamos. Nunca tivemos. Eu não quero ser chato, mas algo chamado dieta do Gordo não me parece o melhor método para emagrecer. Digo eu, eu percebo pouco disso. Qualquer dia temos a Fisioterapia do Perneta ou então ainda a Caça do Zé Invisual. Ou as Piadas do Livreiro de Mau Gosto. É o meu preferido.
Boas férias para todos, até breve…

2 comentários:

Anónimo disse...

~Há quem diga que os livros são um vicio e são mesmo, mas as férias são ainda mais....
Tenho saudades de uma loja em que trabalhava e me divertia com os meus caros colegas que ainda lá estão à espera de um dia a largar a correr para um emprego melhor...
o gege e o mendes.
Sr Mendes ainda aí?
pensei que já tivesses largado essa coisa de livros...
já lá vai quase um ano...as coisas mudam, mas pelos vistos as peripécias continuam a acontecer todos os dias...

deixo um grande abraço aos meus grandes colegas que foram...

os três R's....

Anónimo disse...

POr acaso tem o descodificador...lol