terça-feira, setembro 12, 2006

Fresco e Fofo

Estou, sinceramente, a pensar em mudar o título do Blog. Estava eu perto do balcão, o Gulbenkian no Back Office e o Mestre algures perdido na loja, de lista na mão, tentando fazer mais uma devolução, quando um senhor, aparentemente insuspeito, se aproxima de mim e me aborda calmamente, com um bom dia praticamente inaudível. Retorqui (como manda a Norma do Bom Livreiro, capítulo III, parágrafo 8, logo a seguir à secção sobre o uso ou não de roupa interior justa e florida) e ele, antes de falar novamente, aproximou-se mais de mim. Ora bem, eu, apesar de não ser propriamente a pessoa mais afável que conhecem, ainda dou uns bons 50-70cm de distancia de tolerância para quando uma pessoa fala comigo. Ora, este senhor, aproximou-se perigosamente dos 20cm, deixando-me, naturalmente, perturbado. Mas, nada me poderia preparar para o que vinha a seguir: “Tem aí daqueles livros de higiene, pronto, higiene, pronto, higiene da vagina, assim da mulher”. Ponto número 1: quando um cliente intercala a palavra pronto entre cada frase é caso para nos preocuparmos. Ponto número 2: Ainda bem que é da vagina da mulher. Se fosse de outro ser qualquer seria bastante pior. Eu perguntei, incrédulo, “higiene da mulher?”, ao que ele respondeu, ainda a falar mais baixo: “Sim, pronto, quer-se dizer, higiene da vagina da mulher, assim para fazer uns servicinhos, o habitual”. Servicinhos? Secalhar ia abrir um bordel. Habitual? Lamento desiludi-lo, mas nada do que o senhor diz é habitual. Indiquei-lhe a zona da saúde feminina, sem saber bem o que fazer. Não conheço nenhum livro que fosse de encontro ao que ele desejava, especialmente porque o livro “Como Manter a Passarinha Jeitosa e Afins” estava esgotado. Um quarto de hora mais tarde, encontrei-o a ver um livro da Paula Bobone. Pode ser que, com boas maneiras, ninguém repare no cheiro. Sendo assim, depois destes últimos episódios, estou a pensar em mudar o título do blog para “O Ginecologista”. Parece-me apropriado.
Há clientes chatos. Não há outra forma de dizer, e peço desculpa se estou a ofender alguém. Imaginem: estou eu a tentar aturar um cliente obcecado por esoterismos e dietas fantasmas (é mesmo o termo técnico, porque ninguém as vê) quando uma cliente, que estava a ver livros de culinária a um metro de nós, ouve a conversa. O cliente dizia-me que queria livros técnicos de nutrição e NÃO de dietas. A cliente aparentemente só ouviu a parte das dietas, então, para espanto de todos, enquanto ia procurando livros para ela, ia interrompendo a minha conversa com o cliente, dizendo: “Tem aqui um livro de dietas. Tem aqui mais um livro de dietas. Tem aqui ainda outro livro de dietas” enquanto ia atirando os livros para junto de nós. Isto era especialmente querido da parte dela, especialmente porque ela fazia isto cada vez que eu dizia: “Não, não temos nada” ela respondia com um “Olhe que tem aqui mais um livro de dietas” e atirava-o para junto de nós. Se quisesse ajuda contratava um macaco.
Hoje de manhã atendi um casal na casa dos 60 anos. Era muito divertido. Ela era irritante. Ele berrava com ela. Ela ficava mais irritante. Ele batia-lhe e mandava-a calar e ir se embora. O amor é lindo naquelas idades. Queriam livros sobre Portugal, em Inglês. Dei-lhes duas alternativas. Um livro de 16€ e um de 35€. Começaram por ver o de 35€. Acharam muito melhor. Texto, fotos, tudo melhor. “Uma classe!” disse ela. “Está calada porra!” disse ele. Depois viram o de 16€. Acharam fraquinho. Depois perguntaram os preços. E, miraculosamente, o de 16€ ganhou uma qualidade brutal num espaço de 1 minuto: “Ah sim, pois, este de 16€, realmente, é de classe, tem qualidade, e tem pouco texto, eles também não querem ler aquela chacha do que é ser português!” ao que o marido respondeu: “Cala-te porra!” e bateu-lhe mais uma vez. Depois tentámos fazer uma transacção comercial normal, mas era complicado, porque cada vez que eu falava, o cliente não ouvia bem, a mulher repetia, e ele batia-lhe e mandava-a embora. E ela ria. Levaram quatro exemplares, para mandar para os Estados Unidos. O acto do pagamento foi complicado. Ele queria usar o Visa. Ela queria que ele usasse o cartão Multibanco. Mandou a logo dar uma volta, acompanhando a frase simpática com um doce cachaço no braço. E ela riu-se. O pior de tudo (e, consequentemente, o mais engraçado) é que eles voltaram atrás para comprar outro livro e fizeram o mesmo circo novamente.
Quando é que tenho férias outra vez?

9 comentários:

Trilby disse...

Vista daqui é uma profissão divertida. ;o)

O Livreiro disse...

Do outro lado do balcão é tudo muito divertido, deste lado tem dias.
O Santo, não devias estar a por esfoliante ou creme reafirmante? Sê um bom metrosexual e trata de ti. Mas com cuidado.

Anónimo disse...

só para veres que leio =) lol qualquer dia tambem faço um blog meu com inspiração no teu, claro =P ah qnd abrir a "saude e bem estar" em csc o santo pode ir lá abastecer-se lol

O Livreiro disse...

Sr. Farmacêutica, olha que o Santo vai mesmo. Tem é de haver casas-de-banho aí ao pé.

Anónimo disse...

A sr. farmaceutica gosta muito de provocar o santo e depois recuar... Depois criticam o rapaz ter de correr para a casa-de-banho com tantas hormonas acumuladas!

O Livreiro disse...

Nada disso. O Santo já não corre para lado nenhum. Ele aprendeu a arte milenar do cultivo agrícola e da jardinagem de quintal, ele é praticamente um budista Zen agora.

Anónimo disse...

c.p nao pude deixar de achar piada ao teu comentário,o q me causou algum espanto pelas palavras que li, vejo que és uma pessoa c alguma informação ou com uma mentalidade mto fértil =)

O Livreiro disse...

Amigos, isto é o http://olivreiro.blogspot.com/ , não é o http://engateseetconline.blogspo.com .
Só para saberem.

Anónimo disse...

Com alguma informação??