quinta-feira, novembro 25, 2004

Never Fear, X-Mas is Near.

Bem, aqui estou, o ausente Livreiro, para sossegar os mais desassossegados. Não pereci. Não fui atacado por nenhuma tia desvairada e alcoólica nem me caiu o livro do Da Vinci que vale 165€ na cabeça. Mas, devo dizer que, para felicidade dos presentes na loja nesse momento único, levei com uma chuva de Degelo (livro de Agustina Bessa-Luis, e atente-se a ironia do título) em cima, quando me preparava para empilhar mais uns livros com George W. Bush na capa. Mais uma vez, Bush é o responsável por uma desgraça. A verdade é que me encontro mergulhado em trabalho. Parece que vos oiço: “Ah livreiro, já que és livreiro, podias pelo menos fingir que trabalhas…”. Concordo que já estava na altura de fazer qualquer coisa. Lembro-me como se fosse hoje, parece que ainda agora, neste preciso momento, estou a ouvir o Greenpeace dizer, enquanto pegava nuns livros para arrumar: “Então, quando é que vens de férias?”. Obviamente que esta pergunta não me apanhava incauto, mas mesmo assim há que felicitar Greenpeace pela piada. Claro que outros caíam na esparrela humorística dele. É o delírio. Isto não é uma loja, é praticamente um cabaret.
Tenho que vos confessar também que, para minha profunda tristeza, o nível médio de personagens por semana diminuiu drasticamente. Não sei se tem algo a ver com o novo governo ou não, mas esse facto tem vindo a atrapalhar e de que maneira a minha produção literária. Por vezes, olho para certos clientes como se vislumbrasse um oásis, na ténue esperança de que esses clientes venham a proporcionar momentos dignos de figurarem nesta página. Olho para eles e penso: “Vá, tu consegues. Sê anormal. Eu sei que queres.” Mas, não resulta. Nem o próprio professor Sarna conseguiria tal feito telepático.
No entanto, é com pompa e circunstância que venho por este meio anunciar que o bloqueio já foi, e que a produção de novos episódios já está em marcha. O Natal aproxima-se, e com o Natal vem o Pai Natal, as renas, as prendas e claro, milhares de clientes prontos para deslumbrar com a sua estupidez. E, sendo responsável pela zona esotérica, começo a ter previsões. Prevejo, além do já habitual e agradável humor psicológico, humor físico. E porquê? Simples, diria mesmo elementar. Digamos que, apenas a título de exemplo, a loja deveria ter 5.000 livros para estar com uma apresentação razoável. O que acontece é que, e até ao momento, quando ainda está muito para chegar, a loja terá cerca de 15.000 livros. Portanto, o espaço de movimentação é por vezes diminuto e requer alguma coordenação na locomoção. O que nos leva a uma conclusão muito simples: se há clientes que possuem somente 2 neurónios, sendo 1 para respirar e outro para (tentar) comunicar, o acto de andar, especialmente por sinuosos caminhos ladeados de livros torna-se uma tarefa verdadeiramente impossível. É que há clientes quase tão instáveis como a coligação (quase). E meus amigos, isto não é dizer pouco!
A recessão parece ter afectado todas aquelas boas pessoas que gostam de ler (ou que têm que ler) e o resultado das vendas têm descido quase ao nível da equipa do Sporting.
O que só por si traz um indesejado aumento nos níveis de stress de vários colaboradores, já de si basntante elevado devido ao elevado indice de entrada e saídade de trabalhadores. Parecemos o Benfica na remota e nefasta época de Artur Jorge.
Enfim, a época promete. E eu prometo estar aqui, qual Gabriel Alves sóbrio, para comentar e apreciar a capacidade técnico-táctica e respectivo baixo centro de gravidade dos clientes.
Fiquem atentos…
Voltei.